O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, confirmou durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 nesta terça-feira (11) que houve um pedido para a alteração da bula da cloroquina.
O documento queria adicionar que o remédio, que tem ineficácia cientificamente comprovada contra a doença, fosse usado para tratamento contra o coronavírus Sars-CoV-2. Com isso, Torres confirmou a acusação que o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta contou aos senadores no dia 4 de maio.
“O documento foi comentado pela dra. Nise Yamaguchi, e eu tenho que dizer que tive uma reação até deselegante porque aquilo não poderia acontecer. Só quem pode modificar uma bula é a agência reguladora desde que seja solicitado pelo detentor da fórmula. […] Quando houve a proposta de fazer isso, me causou uma reação mais brusca”, pontuou Torres.
Explicando que uma alteração do tipo só pode ser feita após a farmacêutica apresentar um “grande dossiê” informando sobre novos usos, o presidente da Anvisa disse ainda que não sabe quem escreveu o texto.
“Não tenho a informação de quem criou o documento. A doutora [Yamaguchi] perguntou sobre a possibilidade e parecia estar mobilizada para esse sentido”, acrescentou.
Ao ser questionado sobre o que acha da eficácia da cloroquina, defendida abertamente pelo presidente Jair Bolsonaro, Torres quis ser técnico e disse que há um estudo em andamento no país até o dia 31 de dezembro deste ano. Mas, que estudos internacionais já demonstraram a ineficácia do medicamento.
Ao ser pressionado por Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, sobre se usaria a droga, Torres disse que “não incluiria esse medicamento” e que seu “tratamento precoce é testagem e diagnóstico precoce”.
China e Índia
A oitiva começou com Calheiros fazendo perguntas sobre os atrasos do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) da China e questionando se as constantes críticas de Bolsonaro ao país asiático têm relação com esses problemas.
Torres afirmou que “não tenho informação sobre nexo causal” entre as falas e o atraso e que não há problemas com os produtos chineses na questão de qualidade.
“No mundo, hoje em dia, nós temos dois grandes países que detêm a primazia do IFA. Um deles é a Índia e o outro é a China. Por isso, acaba influenciando a produção de medicamentos no mundo. De fato, durante a pandemia, nós vimos atrasos de insumos. Observamos essas dificuldades, momentos em que o IFA demora um pouco mais a chegar”, acrescentou.
O presidente da Anvisa também falou sobre os processos que não deram as autorizações de uso emergencial para as vacinas Covaxin, da Bharat Biotech, e da Sputnik V, do Instituto Gamaleya de Pesquisa em Epidemiologia e Microbiologia.
Segundo Torres, a não aprovação no primeiro momento se deu por conta de problemas técnicos identificados na própria documentação enviada pelas duas empresas e que a Anvisa aguarda os documentos faltantes para dar andamento à aprovação.
Ressaltando por diversas vezes que não há questões ou pressões políticas para a aprovação dos imunizantes, Torres disse que não há “preciosismo” da agência, mas sim uma verificação correta e completa das vacinas. Além disso, conforme o diretor, a documentação é a mesma solicitada para todas as farmacêuticas e laboratórios que apresentam um pedido de uso emergencial.
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