Uma jovem de 25 anos, moradora no Jardim Simões, em Franca, acabou detida e levada até a sede da DIG(Delegacia de Investigações Gerais) de Franca, após ter simulado o próprio sequestro. Ela trabalha em uma rede de fast food. O delegado Gabriel Fernando Tomaz deu detalhes sobre as investigações que culminaram na elucidação do caso de falsa comunicação de crime.
“Tudo ocorreu na manhã de hoje. A gente recebeu uma ligação de um indivíduo que não se identificou, noticiando que uma funcionária de um fast food famoso aqui de Franca teria sido arrebatada e sequestrada por agiotas, e que esses agiotas estariam exigindo certa quantia em dinheiro por parte da família dessa moça, como condição para libertá-la. De imediato, em razão da configuração em tese do crime de extorsão mediante sequestro, a gente já se mobilizou e começou a fazer as pesquisas. Identificamos a menina, identificamos o endereço da residência dela e fomos para lá. Fizemos contato com a família. De início a família estava bastante desesperada com a situação, até mesmo repelindo a presença policial, com medo de o suposto criminoso fazer alguma coisa grave com ela, porque eles deixaram claro que não era para envolver a polícia. E o detalhe é que esses criminosos entraram em contato somente através do celular da vítima, da suposta vítima. A gente fez uma campana no local, eu já vi que tinha informações que os agiotas iriam até a residência buscar o dinheiro que o pai da vítima tinha retirado mediante empréstimo, uma pessoa idosa. Nesse intervalo, a vítima chegou no local com o Uber. A gente abordou o Uber, colocou todo mundo para dentro da residência e a gente foi conversar com ela”, disse o delegado.
Segundo Gabriel Tomaz, a jovem disse ter sido sequestrada na quarta-feira, 16, em uma escola, nas proximidades da casa dela, e os criminosos a teriam levado a um motel. “E deixado ela até hoje na abertura do almoço, que é o momento que ela chegou na casa dela. A gente achou muitas inconsistências e incoerências nas versões dela, nas pesquisas que a gente fez também, relacionadas à movimentação de aparelhos celulares, etc. E inquirindo mais minuciosamente, ela acabou confessando que estava devendo bastante dinheiro para os agiotas da cidade, e com medo de acontecer alguma coisa grave, ela resolveu inventar que foi sequestrada, para acabar pressionando e forçando a família dela a retirar o empréstimo e fazer a quitação dessa dívida, para ela se ver livre desses agiotas”.
Abriu o jogo
“Diante disso, a gente voltou até a residência com ela e fez ela abrir o jogo com a família. E ela acabou esclarecendo tudo lá, e a DIG acabou, mais uma vez, solucionando um falso sequestro comunicado”.
Segundo o delegado, o denunciante, quando ligou na DIG, se referiu a um vídeo que mostra a jovem em um motel. ” Ela estava com os pés e as mãos amarrados e chorando. Chorando e pedindo socorro, que queria ir embora, que queria sair dali. Dando uma impressão de veracidade para a tese do sequestro. Depois, posteriormente, com a vinda da verdade à tona, ela falou que gravou o vídeo sozinha, como forma mesmo de fortalecer a mentira dela. Em relação ao valor, ela falou que está devendo cerca de 18 mil reais para agiotas, tanto de Franca quanto de outras cidades. Às vezes, num desespero, acaba cometendo esse tipo de crime”.
“Já teve casos na cidade de Franca que a pessoa estava devendo e foi morta, né? Esse, o delito de usura, né, que é conhecido popularmente como agiotagem, que é efetivamente emprestar dinheiro sobre juros abusivos. É um crime, né, evidentemente, e a pessoa, quando ela pega o dinheiro emprestado, ela tem a obrigação de pagar, mas ela tem a obrigação de pagar com os juros previstos em lei, não os juros estabelecidos de forma arbitrária pelo agiota aí, né, a pessoa que emprestou o dinheiro. A orientação que a gente dá é de ter bastante cautela quando fazer esse tipo de transação, né, evitar pegar dinheiro nesse tipo de condição, por mais urgente que seja a situação, porque isso aí vira uma bola de neve, um ciclo infindável, né. E advertimos também que toda comunicação de sequestro, de extorsão mediante sequestro, em razão da gravidade, vai ter toda a atenção aí da Delegacia de Investigações Gerais. A gente investiga tudo minuciosamente. Então, se for mentira, a verdade vai vir à tona, isso pode gerar consequências criminais pra pessoa. No caso de hoje, não vai gerar, porque quem fez a denúncia foi um denunciante anônimo. Ele ligou na DIG e fez essa denúncia, e acredito eu preocupado mesmo com a situação da suposta sequestrada. Geralmente, a gente tem a própria vítima fazendo a falsa comunicação. Nesse caso, a gente tem um crime previsto no artigo 340 do Código Penal, que é a falsa comunicação de crime, né. Isso aí pode gerar responsabilidade criminal pra pessoa”.