Nos últimos anos, o setor de educação superior passou por uma forte concentração de mercado. De acordo com o Censo da Educação Superior de 2023, o Brasil contava com 2.580 Instituições de Ensino Superior (IES), sendo quase 88% delas privadas. Além disso, conforme matéria da Folha de São Paulo cinco grandes grupos educacionais concentram 27% dos alunos de graduação, somando mais de 2,5 milhões de estudantes e o Semesp complementa explicando que 74,8% das IES do país são de pequeno porte, sendo que, na rede privada, esse percentual é de 79,9%.
No Brasil, a educação é um direito social garantido pela Constituição Federal de 1988. Cabe ao Estado oferecer ensino para a população, mas, devido à alta demanda e à limitação da rede pública, instituições privadas podem obter concessões para ofertar cursos de graduação e pós-graduação. Isso torna a educação superior um setor regulado pelo governo.
Diferente da maioria dos negócios, que podem ser abertos sem uma autorização específica do governo, uma faculdade precisa de um credenciamento no Ministério da Educação (MEC). Enquanto setores como o comércio de roupas, eletrônicos e alimentos operam livremente, a educação superior exige um rigoroso processo de credenciamento e fiscalização contínua.
O processo de credenciamento
Empresas interessadas em atuar na educação superior devem solicitar um credenciamento ao MEC. Caso aprovada, a instituição pode operar temporariamente, passando por avaliações periódicas para manter o negócio. O processo de credenciamento exige investimentos em infraestrutura, laboratórios e contratação de professores. O tempo de aprovação varia, mas estima-se que seja concluído em torno de dois anos.
Oportunidades para instituições menores
Apesar da dominância dos grandes grupos, ainda há espaço para faculdades menores que ofereçam diferenciais. Flávio Cella, que é consultor para processos no Ministério da Educação explica que algumas estratégias para se destacar incluem:
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Faculdades de nicho: especializar-se em uma área específica pode ser uma vantagem. Uma escola de aviação civil, por exemplo, pode criar um curso de Ciências Aeronáuticas. Já um instituto de pesquisas marítimas pode oferecer um curso de Gestão Portuária;
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Contexto regional: instituições que atendem às demandas econômicas locais têm boas chances de sucesso. Um exemplo são cursos de engenharia ou logística em regiões onde estão previstas grandes obras ferroviárias. Em Mato Grosso, onde o agronegócio é forte, cursos ligados às ciências agrárias são estratégicos;
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Material didático e acompanhamento: grandes instituições, especialmente na modalidade EaD, costumam adotar materiais padronizados, com pouca interação entre alunos e professores. Faculdades menores podem se destacar ao oferecer tutoria intensiva, atividades práticas e um modelo de ensino mais próximo dos estudantes;
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Metodologias: seja na educação presencial ou na modalidade EaD, é possível adotar metodologias ativas, nas quais os estudantes assumem o papel de protagonistas das atividades, utilizando tecnologias educacionais como plataformas de aprendizagem;
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Integração com a comunidade: parcerias com empresas e organizações permitem a interação dos estudantes com a comunidade, proporcionando experiências reais por meio de atividades de extensão e prestação de serviços.
Em síntese, o entrevistado conclui que “o modelo de educação de massa ainda predomina, mas a diferenciação está ao alcance de todas as instituições. Embora a presença dos grandes grupos dificulte a entrada de novos concorrentes, ainda há espaço para inovação no setor. Flávio Cella, que é consultor de processos no MEC, na 14B Educação, ressalta que os modelos utilizados são, em sua maioria, tradicionais e que se trata de um mercado conservador, mas que inovações podem abrir oportunidades e, inclusive, são cobradas pelo MEC nos instrumentos de avaliação. Quem deseja abrir uma faculdade precisa conhecer o mercado, compreender os processos regulatórios do MEC e elaborar um plano de negócios bem estruturado”.
Uma leitura recomendada para quem quer se aprofundar no tema é o livro “Regulamentação da Educação Superior no Brasil”, disponível gratuitamente em: www.14beduc.com.br/livros.