A Polícia Civil de Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, trabalha em um inquérito desde 2021 que apura a movimentação de uma organização criminosa ligada ao jogo do bicho em Nova Lima, na região metropolitana. O documento, de mais de 20 páginas, ao qual O Tempo teve acesso, traz depoimentos e descrições que apontam o vereador da cidade Anísio Clemente Filho, o Anisinho, como o chefe da operação de apostas. Na época da ocorrência, ele era presidente da Câmara Municipal.
Em depoimento, duas pessoas presas com blocos de anotações e dinheiro em espécie em uma operação realizada na praça do Mineiro, no centro da cidade, confirmaram ser os responsáveis por registrar as apostas feitas pelos clientes e que o dono da banca seria o vereador, a quem eles enviavam diariamente por meio de WhatsApp cópia dos recibos das apostas. Além disso, os dois detidos relataram na época que os valores arrecadados eram enviados ao parlamentar duas vezes ao dia.
Um dos homens detidos, de 60 anos na ocasião, disse à polícia que trabalha como apontador de jogos de azar para Anísio Clemente. Segundo ele, Anisinho organizava o jogo do bicho, recolhia as apostas e pagava seu percentual. Ele também disse que encaminhava as fotos dos jogos para Anisinho, para controle dele. Todos os valores arrecadados, ainda conforme Batista, eram entregues para um motoboy identificado apenas como Gilvan, que repassava os valores a Anisinho.
O outro homem preso na operação policial em Nova Lima tinha 61 anos. Ele prestou depoimento semelhante ao do colega e acrescentou que Anisinho tinha controle total sobre o jogo do bicho em Nova Lima, que trabalhava para o vereador havia mais de 12 anos e que recebia como pagamento 30% de tudo que arrecadava nas ruas. Os dois foram ouvidos e liberados na ocasião.
Em andamento
Questionada sobre o andamento do inquérito, a Polícia Civil respondeu, por meio de nota, que as investigações ainda não foram concluídas e mais informações serão divulgadas ao término do inquérito.
A delegada responsável pelo caso, Silvania Ribeiro Silva, afirmou que o processo não andou por “falta de estrutura”. De acordo com ela, houve troca de escrivão na delegacia, e isso provocou atraso em todos os processos. Ela afirmou, entretanto, que pretende ouvir o depoimento de Anisinho.
O vereador foi procurado, mas não respondeu aos contatos nem quis receber a reportagem pessoalmente em seu gabinete.