Na última terça-feira, 10 de setembro de 2024, o Conselho Municipal de Políticas Culturais de Franca (CMPC) se reuniu para discutir o polêmico remanejamento de parte da verba da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) 2024, inicialmente apontado exclusivamente ao fomento cultural . O prefeito Alexandre Ferreira, sem discussão prévia com os agentes culturais, como orienta a política nacional Aldir Blanc, optou por usar parte da verba para obras. Tal remanejamento também não foi comunicado aos agentes e nenhum projeto de obras foi apresentado na proposta encaminhada a Câmara Municipal para fazer a adequação orçamentária, causando insatisfação entre os agentes culturais e conselheiros.
Durante a reunião, Roberto Saad, representante da FEAC (Fundação Esporte, Arte e Cultura) e membro representativo do poder público municipal no conselho, explicou o Plano de Metas da PNAB, detalhando que 25% dos recursos seriam destinados ao programa “Cultura Viva”, totalizando R$ 569.578, além de 5% para custos operacionais. Ele também citou que a prefeitura entraria com aproximadamente R$ 200 mil reais, somando ao valor retirado da PNAB para obras de acessibilidade no Museu de Franca, que enfrentavam graves problemas estruturais, incluindo infestações de traças e cupins.
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Discussão da comissão adiada para consulta ao conselho
O vereador Gilson Pelizaro (PT), que também esteve presente na reunião, informou que adiou a discussão referente a PL que aconteceria pela comissão responsável da Câmara Municipal De Franca para que o conselho pudesse ser consultado. No entanto, ele enfatizou que o Legislativo não tem poder para alterar o documento, uma prerrogativa que cabe exclusivamente ao prefeito, o que limita as possibilidades de influência do conselho, sendo ele consultivo e não deliberativo.
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Falta de comunicação e planejamento
Vários conselheiros manifestaram seu descontentamento com o processo. Carol, uma das conselheiras, ressaltou que a falta de comunicação adequada prejudicava o debate, especialmente por conta do envio do documento ao Ministério da Cultura sem consulta prévia ao conselho.
Gabriel e Daniel, membros do conselho anterior, criticaram o fato de que a comunicação sobre a publicação do documento no site do Ministério, ocorrida em dezembro de 2023, foi feita de maneira informal pelos ”corredores da FEAC”. Eles ressaltaram que o conselho deveria ter sido formalmente informado sobre esse procedimento.
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Questões administrativas ou foco no fomento?
A conselheira Higina fez questionamentos importantes sobre a falta de provisionamento e planejamento das obras no Museu de Franca. Ela apontou que os R$ 200 mil propostos pela prefeitura seriam insuficientes para cobrir todas as necessidades do prédio, que precisam de reformas complexas, incluindo na estrutura elétrica, no piso e no telhado, além de melhorias na acessibilidade. Segundo Higina, a retirada de recursos do fomento cultural para obras sem planejamento claro não faz sentido, evidenciando uma priorização equivocada.
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Outros agentes culturais presentes reforçaram a importância do fomento, argumentando que os incentivos geram renda, dignidade e prosperidade tanto para os artistas quanto para a cidade como um todo. Eles apontaram que negligenciar essa verba em favor de obras mal planejadas seria uma decisão um pouco inteligente por parte da prefeitura.
Indignação e comprometimento do conselho
Fernanda expressou sua indignação com a atitude da Prefeitura e da FEAC, que desconsideraram a sugestão do conselho de priorizar o fomento cultural no edital. Segundo ela, embora o conselho tenha caráter consultivo, o envolvimento e o trabalho dedicado de seus membros e dos agentes culturais foram ignorados, o que, apesar de legal, foi considerado antiético. Ela questionou diretamente os representantes da prefeitura presentes na reunião sobre suas justificativas para essa decisão.
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Por fim, Roberto Saad afirmou que não teria tempo hábil para modificar o documento, uma vez que o prazo para alterações era até dia 7 de setembro. No entanto, ele se comprometeu a destinar os valores adicionais gerados pelos rendimentos dos recursos do PNAB para o fomento cultural.
Próximos passos
O atual coordenador do conselho, Wesley, solicitou aos presentes uma votação aberta, onde houve um consenso geral diante da situação. O pedido de dotação orçamentária será votado na próxima terça-feira, 17 de setembro, na Câmara Municipal. Ainda que não da forma ideal sugerida pelo conselho, a decisão visa garantir que os agentes culturais de Franca possam ser contemplados e que o município continue a fazer parte do Plano Nacional de Cultura, neste e nos próximos anos.
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