Entidades questionam onde estão os animais e ficam sem reposta das autoridades
Entidades que resgatam gatos e cachorros em Doha afirmam que milhares de animais foram retirados das ruas da capital nos meses anteriores ao início da Copa do Mundo do Qatar.
Uma ativista diz ter sido ameaçada de prisão por reclamar da falta de informações sobre qual destino lhes foi dado.
Integrantes de duas ONGs falaram na condição de anonimato, por meio de troca de mensagens pelo WhatsApp e por e-mail. As organizações têm dificuldade para sobreviver financeiramente no país porque, pelas leis do Qatar, é proibido pedir doações.
A única entidade protetora dos animais que funciona legalmente na região é a Paws Rescue Qatar. Mas ela está registrada no Reino Unido.
Uma das duas ONGs que conversaram com a reportagem é dirigida por estrangeiros que temem deportação caso comentem publicamente o assunto.
A Folha entrou em contato com o Departamento de Resgate de Animais, por meio do Ministério do Meio Ambiente do Qatar. Foi questionado, por e-mail, se animais foram retirados das ruas nos meses anteriores ao torneio da Fifa, onde eles estão e se isso foi feito por causa da competição de futebol. Até a publicação deste texto, não houve resposta.
Uma das entidades afirma que apenas o ministério pode dar um número exato de quantos gatos e cachorros foram retirados das ruas. A estimativa das ONGs é que tenham sido cerca de 5.000 cães. Os gatos são “muito mais do que isso”, asseguram.
Elas dizem que Doha não tem abrigo para gatos, e isso torna tudo mais preocupante.
“Nos meses anteriores à Copa do Mundo, havia muito mais gatos e cachorros nas ruas, principalmente gatos. Eles foram capturados pelo departamento de controle de pestes, e não está claro o destino dos animais”, disse representante de uma das entidades.
Outra delas afirma que defensores dos animais não têm entrada permitida em lugares como Rawdat Al Faras, um abrigo para cães. Diz também que mais cachorros e gatos têm sido levados a cada dia.
“Eles continuam os levando e dizendo que estão sendo bem tratados. Como eles têm a estrutura e veterinários para isso é algo que não compreendo”, diz uma ativista. Segundo ela, é exibido a jornalistas um abrigo chamado Mazrooha, mas o número de cachorros lá é pequeno e não reflete a realidade.
A maior população em Doha é de gatos. Não se encontram cachorros nas áreas mais urbanas. Segundo as ONGs de defesa dos animais, eles se concentram mais nas zonas industriais.
Estimativa de 2016 diz que há cerca de 3 milhões de gatos no Qatar, o que representaria, praticamente, um para cada habitante do país. O governo qatariano não confirma esse dado. Há também a discussão entre especialistas do islamismo, ea religião oficial da região, se os cachorros são impuros e, por isso, não devem ser criados em residências.
É necessária uma licença do governo para ter gato ou cachorro em casa. Os cães não são, geralmente, permitidos em locais públicos. Podem ser levados pelos donos a algumas praias selecionadas, desde que estejam o tempo todo na coleira. Há 14 raças banidas no país, entre elas boxer, buldogue, doberman e rottweiler.
Antes do Mundial, a quantidade de gatos de rua surpreendia os turistas porque, na área urbana, eles estavam em todos os lugares. Eram alimentados e recebiam água dos visitantes. A cena de os carros pararem no meio do tráfego para a passagem de cachorros, comuns no mundo ocidental, ocorria em Doha com gatos.
De acordo com as ONGs ouvidas para a reportagem, a ação de retirada dos animais se intensificou com a proximidade da Copa. Segundo elas, nos primeiros contatos, as autoridades asseguraram que eles eram bem cuidados. Isso é questionado pelas entidades.
Fonte: Folha de SP