A Fundação Espírita Allan Kardec iniciou nessa semana os preparativos para a concretização de um grande sonho: a instalação do Museu da Saúde Mental. Na última quarta-feira, 22, a Fundação recebeu obras da artista Maria Edith Popluhar, que também era médica e sofria de transtorno bipolar, doadas pela família.
Quadros e peças criadas com caixas de remédios foram entregues à Fundação pela irmã de Maria Edith, a farmacêutica Rosália Maria da Costa Popluhar, e comporão o acervo do Museu da Saúde Mental, que será inaugurado dentro das comemorações do primeiro centenário do “Allan Kardec”.
Rosália estava acompanhada das também farmacêuticas Adriana Baraldi Alves dos Santos e Gisela Ambrósio, amigas da família.
“Recebemos a Rosália Popluhar, a Gisela e a Adriana, que vieram nos presentear com obras de arte da doutora Maria Edith Popluhar. Essas obras de arte praticamente inauguram o nosso acervo do Museu da Saúde Mental, que estamos idealizando e vamos inaugurá-lo por ocasião dos 100 anos da Fundação Espírita Allan Kardec”, disse o presidente da instituição, Mario Urias Martinez.
O presidente agradeceu a doação. “Nós agradecemos imensamente. Essas obras têm o contexto todo voltado para a Saúde Mental. Todas elas são feitas com (embalagens de) medicamentos, todas elas têm essa temática, e serão aqui muito bem conduzidas dentro do acervo do nosso museu. Agradeço a vocês pela oportunidade de receber esse material, e esperamos que seja só o início dessa grande parceria.”
A irmã da artista ressaltou a importância das peças para a família e afirmou que no “Allan Kardec” encontrou o local ideal para que a obra de Edith Popluhar se perpetue. “As obras são da minha irmã, que tinha um transtorno mental e, da medicina, acabou indo para as artes. Então, isso tem um significado muito grande para o trabalho aqui da Fundação, e não podia estar em melhores mãos. Eu espero muito que isso possa influenciar outras pessoas a encontrar paz, positividade, encontrar uma coisa bacana de fazer na vida”, disse Rosália.
As 16 obras doadas à Fundação Allan Kardec são quadros, instalações e peças no formato de vestido feitos com embalagens de remédios.
A artista
Maria Edith Popluhar, natural de São Paulo, concluiu o curso de medicina na Faculdade de Medicina de Jundiaí, em 1984, com residência em neuropediatria. Segundo Rosália, a médica-artista sofreu o primeiro surto, no fim da faculdade.
“Ela foi diagnosticada na época com transtorno maníaco-depressivo. Ainda não se usava o termo bipolar. Depois que a nomenclatura mudou para transtorno bipolar”, disse a irmã.
Rosália destaca que a irmã, após a residência, fez estágio em Paris, na França. Mesmo com o transtorno, Maria Edith fez carreira na medicina, clinicando por duas décadas. “Quando ela completou 20 anos (de profissão), já estava cansada. Tanto é que ficar sem dormir para uma pessoa que tem um problema, assim, mental é pior que ficar sem comer. Aí, ela criou coragem e falou: ‘Vou abandonar a medicina’.”
Segundo a irmã, a arte fez parte da vida de Edith Popluhar, desde sua infância. Quando decidiu deixar a medicina, fez curso de arte-terapia no Rio de Janeiro, e começou a atuar na área. “Era um jeito dela não ficar totalmente fora da medicina.” Mas ainda não era o que procurava. Era a arte, não a terapia, que encantava a artista.
Fez, então, pós-graduação em História da Arte na Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), em São Paulo. E a médica, definitivamente, deu lugar à artista. “Aí, ela começou a fazer esses trabalhos conceituais com as caixinhas de remédio”, relembra Rosália, dizendo que, assim, a irmã uniu a medicina – “a escolha do coração” – com as artes.
Uma das obras da médica-artista é justamente “Doutor, virei artista!”.
Edith faleceu no dia 14 de agosto de 2020, vítima de síndrome neuroléptica maligna, resultado de uma raríssima intoxicação causada pelos medicamentos que tomava por conta do transtorno bipolar.
Rosália, então, começou a procurar um local para expor a obra da irmã, um local que cuidasse do acervo com a mesma atenção que a família. Através de uma amiga, natural de Franca, chegou à Fundação Allan Kardec.