Na luta contra a COVID-19, nossas principais aliadas têm sido as vacinas. Mas será que combiná-las vale a pena? Segundo os especialistas, mesclar imunizantes pode fornecer níveis mais elevados de anticorpos do que duas doses de uma única vacina.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recomenda mesclar doses de diferentes fabricantes na imunização de pacientes contra a COVID-19, porque ainda não há evidências de que a aplicação de doses de fabricantes distintos produza efeito contra a doença em questão. A agência chega a instruir que, caso uma pessoa receba doses de diferentes fabricantes, deve procurar as secretarias de saúde, o Ministério Público ou o Ministério da Saúde e denunciar o ocorrido.
Em contrapartida, pesquisas da Espanha e no Reino Unido sugerem justamente o contrário: que imunizantes de diferentes fabricantes fornecem níveis maiores de anticorpos. E para os cientistas Fiona Russell e John Hart, que dissertaram ao site The Conversation, essas pesquisas são promissoras.
O estudo do Reino Unido contou com 830 adultos que receberam a vacina da Pfizer ou da AstraZeneca, primeiro uma e depois a outra. Segundo essa pesquisa, as pessoas que receberam doses mistas apresentaram maior probabilidade de desenvolver sintomas leves a moderados em comparação com aqueles que receberam vacinas da mesma empresa. Já o estudo (não revisado por pares) realizado na Espanha apontou que a maioria dos efeitos colaterais foram leves ou moderados e de curta duração (dois a três dias).
Segundo os especialistas, um programa de imunização flexível permite agilidade diante das limitações de oferta global. Isso porque, se houver falta de vacina, em vez de parar todo o processo para aguardar o fornecimento, existe a possibilidade de continuar com uma vacina diferente, e se uma vacina for menos eficaz do que outra contra uma determinada variante, esquemas mistos podem garantir que as pessoas que já receberam uma dose de uma vacina menos eficaz possam receber outra mais eficaz contra a variante.
E para se ter uma ideia, há alguns países utilizando esquemas mistos. Na Espanha, por exemplo, aqueles com menos de 60 anos que receberam a primeira dose de AstraZeneca podem escolher entre continuar com o mesmo imunizante ou receber a vacina da Pfizer. Enquanto isso, pesquisas já estão em andamento para avaliar os cronogramas de mistura e combinação entre as vacinas Moderna e Novavax.