Nesta terça-feira, 11 de fevereiro de 2025, aconteceu a primeira sessão ordinária da Câmara Municipal de Franca, não no plenário tradicional, mas no palco do Teatro do SESC Franca. Um gesto que, por si só, carrega um simbolismo preocupante e pode ser considerado audacioso e vergonhoso por parte dos atuais vereadores. O motivo? Nada se tem feito — ou sequer debatido — a respeito da arte e cultura na cidade de Franca a anos.
A cidade vive tempos de profundo descaso nessa área. A tradicional festa de Carnaval de rua, que por anos movimentou a cidade, já não acontece há várias edições. Movimentos culturais que antes ocupavam praças e espaços públicos desapareceram, e eventos como os antigos shows de Réveillon, organizados pela gestão do ex-prefeito Gilson de Souza, são apenas lembranças. Naquele período, havia a preocupação em descentralizar o acesso à cultura, levando grandes artistas aos bairros da cidade e garantindo que a população pudesse vivenciar experiências culturais diversas, além de oferecer espaços aos artistas locais para se apresentarem.
Atualmente, o cenário é outro: espaços culturais importantes, como a Casa da Cultura e do Artista Francano Abdias do Nascimento, encontram-se em estado crítico. Pouco ou nada foi feito para reverter essa situação, evidenciando a ausência de políticas públicas voltadas à preservação e ao estímulo da produção cultural local.
Palco: Espaço para Arte, Não para Política
O palco de um teatro carrega um significado poderoso. É o espaço para a expressão artística, para a voz dos artistas, não para discursos políticos, especialmente de quem pouco ou nada fez pela arte e pela cultura no município.
O SESC Franca, uma instituição de relevância cultural e social, deve estar mais alinhado com os agentes culturais locais e atento ao papel que nossos representantes políticos desempenham — ou não — na construção de uma cidade mais aberta e plural culturalmente. Afinal, o histórico recente é quase nulo nesse sentido.
É ainda mais irônico que os idealizadores dessa iniciativa de realizar as sessões da Câmara no teatro sejam pessoas que raramente, ou nunca, prestigiam eventos culturais da cidade. Questionados sobre a agenda cultural do próximo fim de semana, provavelmente não saberiam responder.
A Falta de Espaço para os Artistas Locais
Para os artistas de Franca, conquistar espaço nos poucos palcos disponíveis da cidade é um verdadeiro desafio. São anos de luta e resistência para serem vistos e ouvidos. Enquanto isso, a ocupação desse mesmo espaço por uma pauta política foi feita com uma facilidade revoltante.
Se o interesse do vereador Daniel Bassi, que planeja firmar uma parceria entre a TV Câmara e o SESC Franca, fosse realmente promover a arte e a cultura, por que a TV Câmara nunca abriu espaço em sua programação para divulgar as ações culturais e os trabalhos dos nossos artistas locais? Por que nunca foram criados programas na TV Câmara voltados à cultura regional, oferecendo visibilidade aos movimentos culturais da cidade?
O episódio escancara uma dura realidade: falta diálogo, interesse e apoio concreto à cultura em Franca. Que a ocupação do palco do SESC por nossos políticos sirva, ao menos, como um alerta — para que o teatro seja devolvido aos artistas e para que a cidade retome, o quanto antes, o caminho de uma política cultural mais justa, participativa e inclusiva.
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