Produtores enfrentam impacto da seca e preveem quebra de safra em boa parte da região; colheita deve se estender até agosto
A colheita do café já começou na Alta Mogiana, uma das regiões mais tradicionais na produção de cafés especiais no Brasil. Apesar do otimismo com os preços, que seguem em patamares elevados, os produtores lidam com um cenário de menor produtividade em 2025, reflexo direto da longa estiagem registrada nos últimos meses.
Em Ribeirão Corrente, no interior de São Paulo, o produtor Rafael Stefani relata o impacto do clima nas lavouras da região. “Foram quase seis meses com chuvas muito irregulares. Isso afetou o desenvolvimento dos grãos e, consequentemente, o volume de produção. A expectativa é de uma safra menor em comparação com os últimos anos”, afirma.
Embora levantamentos oficiais indiquem uma redução modesta na produção de café no Estado de São Paulo — em torno de 4%, segundo dados recentes da Conab —, a percepção entre os cafeicultores da Alta Mogiana é de uma quebra mais acentuada. “A realidade no campo mostra perdas maiores, que em algumas áreas podem chegar a até 20%. É uma diferença muito significativa”, destaca Stefani.
Ele explica que, em sua propriedade, o uso de sistemas de irrigação foi essencial para mitigar os efeitos da seca. “Nas áreas irrigadas, conseguimos contornar parte do impacto. Nossa colheita este ano, inclusive, deve ser um pouco superior à do ano passado. Mas essa não é a realidade da maioria das lavouras da região”, complementa.
Apesar do cenário desafiador, especialistas destacam a importância de o produtor já voltar o olhar para o próximo ciclo do cafezal. O engenheiro agrônomo e pesquisador Marcelo Jordão lembra que, com a safra atual sendo mais baixa, é natural que a lavoura projete um bom desempenho para o ano seguinte, graças à bienalidade do cafezal — característica do cultivo que alterna anos de maior e menor produção.
“Mesmo com a quebra de safra em 2025, o cafeicultor precisa olhar para 2026 com atenção. Uma lavoura que colhe menos tende a se recuperar no ciclo seguinte, desde que receba os cuidados adequados. As condições climáticas mais favoráveis deste ano estão proporcionando bom desenvolvimento dos ramos, o que pode resultar em uma excelente safra no ano que vem”, explica Jordão. “Por isso, mesmo em um momento produtivo difícil, é fundamental manter os tratos culturais em dia e preparar a lavoura pensando no próximo ciclo.”
A colheita na Alta Mogiana costuma durar entre três e quatro meses. A maioria dos produtores inicia os trabalhos em maio e segue até o final de agosto, podendo se estender até setembro em algumas propriedades. A expectativa agora é por clima estável e seco, condição essencial para garantir a qualidade dos grãos colhidos.