Uma das empresas do principal investigado na operação que mirou nesta semana um grupo suspeito de faturar licitações públicas em nome do PCC (Primeiro Comando da Capital) teve contrato com a Prefeitura de Franca. O acordo foi firmado em setembro de 2020 durante a gestão de Gilson de Souza(Avante) e prorrogado em 2023 já na gestão Alexandre Ferreira (MDB). Os valores não foram revelados à reportagem do FNT.
Na época a empresa Mova Empreendimentos Comercial e Serviços Eirelli foi contratada para prestar serviços de limpeza em escolas e na sede da Secretaria Municipal de Educação. O contrato que terminaria em agosto de 2023 acabou prorrogado por mais 3 meses, com a publicação ocorrendo no Diário Oficial do Município no dia 8 de fevereiro de 2024.
O contrato em questão havia sido faturado pelo Grupo Safe, empresa com capital social de R$ 5 milhões e que pertence a Vagner Borges Dias, o “Latrell Brito”, um dos alvos de mandado de prisão autorizados na terça-feira,16, na operação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
Uma ex-funcionária da Mova, que pediu para não ser identificada, em entrevista exclusiva ao repórter Alexandre Silva, da rádio e portal FNT, revelou detalhes da atuação da empresa Franca.
Segundo ela, a Mova não tinha escritório na cidade e, sim, um depósito de materiais de limpeza, que ficava localizado na Vila Resende.
“Este depósito tinha material de limpeza, tipo detergente, cloro, panos de chão, essas coisas, que eram fornecidos para as escolas (municipais) e uma vez por mês as funcionárias iam até lá só pra assinar o recibo”. OUÇA A ENTREVISTA:
Os pagamentos não eram feitos em Franca. A responsável pela Mova é Joyce da Silva Caetano, possível funcionária de Vagner e alvo de mandado de prisão.
Funcionários da Mova em Franca estão com salários atrasados a pelo menos 14 dias. Desde que a investigação nas empresas de Vagner veio a tona, a Mova fechou o depósito de material de limpeza e dispensou os funcionários.
Em São Paulo um só contrato firmado com a Prefeitura da capital paulista, em agosto de 2020, na gestão Bruno Covas (PSDB) rendeu a Safe, R$ 40,1 milhões.
O acordo foi rescindido seis meses depois por inexecução dos serviços contratados.
Vagner Borges Dias é suspeito de integrar esquema que forjava concorrências para conquistar contratos públicos e “prestigiar interesses da facção criminosa PCC”. Segundo as investigações, uma série de empresas simulava concorrência em licitações e pagava propina a agentes públicos para obter vantagens nos processos de contratação.
No caso de Franca, nenhuma irregularidade teria sido comprovado. No entanto, as empresas de Vagner teriam fraudado licitações em São Paulo, Jaguariúna, Guarulhos, Suzano e Mogi das Cruzes, dentre outras Prefeituras e Câmaras Municipais no Estado de São Paulo.
O esquema
A operação do MPSP prendeu 13 pessoas nessa terça-feira, incluindo os três vereadores. A quadrilha é suspeita de desvios em contratos que somam R$ 200 milhões.
O cartel do PCC, segundo os promotores, tinha ao menos oito empresas que simulavam a disputa dos contratos públicos de 13 cidades, com a participação de agentes públicos. Parte delas estava em nome de membros da facção ou de laranjas, que desde 2019 se associaram a empresários que forneciam serviços de limpeza e de vigilância para diversos órgãos públicos, com o intuito de desviar parte dos recursos.