Alegria é rever amigos e voltar ao passado em busca da pequena Karla.
Há alguns dias, recebi um telefonema de um homem que eu não conhecia, ou melhor, que era muito próximo na infância.
Ele se apresentou com seu nome artístico, Silvestre, e disse que queria muito ver meu tio e meu pai, o maior tocador de viola caipira da década de 60.
Contou também que fazia dupla com meu estimado tio, Paulo Andrade.
Eu passei o endereço e, algum tempo depois, recebi esse querido visitante que arrancou lágrimas de todos que estavam na pequena sala de casa.
Recordamos o repertório da dupla, agora em trio, revimos fotos e contamos histórias que vivemos há 30 anos atrás. Em meio tantas histórias, uma, eu nunca me canso de ouvir e vou contar para vocês.
Sempre entusiasmado com as recordações, meu tio conta que quando vieram de São Tomás de Aquino, cidade natal dos irmãos, eles tocavam viola em festas e bares da cidade e era algo novo na cidade, pois ninguém aqui fazia esse tipo de apresentação.
Muitas vezes, os donos de bar não gostavam de recebê-los, mas como os clientes gostavam muito e faziam um protesto a favor da dupla, acabavam cedendo então se apresentavam. Uma vez haveria um show de Tião Carreiro e Pardinho em Franca e, de última hora, desmarcaram.
Foi então que a organização do show convidou Totinho e Paulo Andrade para tocarem e cantarem no lugar da renomada dupla. Lógico que eles aceitaram. Quando subiram no palco, foram muito vaiados e a dupla pediu aos presentes que pelo deixassem eles tocar ao menos uma música, e se a plateia não gostasse desceriam do palco, a chance foi dada.
A plateia gostou tanto que eles nunca mais pararam. E ainda hoje onde tem um violão tem show, não importa a hora e nem o lugar. E, nesse momento, escrevendo aqui fico eu com os olhos marejados transbordando de tanta felicidade.
Voltando à visita,
Foi uma emoção muito grande para mim ver o sorriso, a alegria e, principalmente, ver vida no meu amado e velho pai, meu artista preferido, que hoje aos 80 anos, não tem mais a expertise e o ímpeto da sua juventude, mas nem mesmo o Alzheimer apagou da memória as melodias, as canções, a letra e a conexão que o liga à música e à viola.
Segue o link de um pequeno registro desse dia tão especial:
Confesso que é a coisa mais linda do mundo ouvir sua voz na mesma batida da viola. Uma pena que ele não consegue mais tocar a viola, pois suas mãos atrofiaram.
Enfim, é um resgate de identidade profunda que me faz um bem sem medidas.
O Passado, na década de 60
O presente, dia desses ..
Não tenho palavras de agradecimento para o Martins e sua visita tão especial que levarei para a eternidade desse dia.
Queria muito poder proporcionar uma reunião entre os cantores da época, alguns já nem estão mais entre nós, como o Saudoso Anchieta e Totõe, outros como o Tassinho a décadas não encontramos.
Fico imaginando quão maravilhoso seria.
E só pra registrar meu pai era o dono do Bar dos Artistas local de encontro no calçadão da Marechal Deodoro, hoje ocupada pela loja Giga.
Meu Deus que infância Feliz foi a minha.