Pelo menos 35 ônibus foram incendiados nesta segunda-feira (23) na zona oeste do Rio de Janeiro depois de uma operação policial que resultou na morte do sobrinho de um miliciano que atua na região. Até o início da noite, não havia confirmação de pessoas feridas ou mortas nos ataques.
De acordo com o Rio Ônibus –que é o sindicato das empresas do transporte coletivo na capital fluminense– esse foi o maior número de ônibus queimados na cidade em um único dia.
A concessionária SuperVia informa que também foi realizado um ataque contra um trem nas proximidades da estação Tancredo Neves, no bairro de Santa Cruz.
De acordo com a empresa, uma composição “que saía de Santa Cruz sentido Central, às 18h04, foi abordada por bandidos nas proximidades da estação de Tancredo Neves”. “O maquinista foi obrigado pelos bandidos a abrir a porta, a descer da composição e teve que retornar à estação. Os criminosos atearam fogo à cabine de um trem. Todos os passageiros desembarcaram em segurança.”
Por conta do ataque, as estações ficaram fechadas no trecho entre Benjamim do Monte e Santa Cruz.
Em entrevista coletiva realizada no início da noite, o governador Cláudio Castro (PL) afirmou que 12 pessoas haviam sido presas por envolvimento nas ações criminosas.
Segundo a Polícia Civil, os ataques foram praticados por um grupo de milicianos em represália à morte de Matheus da Silva Resende, de 24 anos, vice-líder da quadrilha. Ele morreu horas antes durante um confronto com policiais civis numa favela de Santa Cruz, bairro da zona oeste.
Conhecido como Teteu ou Faustão, Resende era sobrinho de Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, que desde 2021 é o líder do principal grupo miliciano que atua no Rio. Faustão, era o segundo na hierarquia do grupo, segundo a polícia.
Após os ataques, a Prefeitura do Rio anunciou a suspensão das aulas nas escolas da rede municipal de ensino da cidade. A informação foi confirmada nas redes sociais pelo secretário municipal de Educação do Rio, Renan Ferreirinha. “Nossas equipes estão acompanhando de perto para minimizar os danos dessa guerra na vida do carioca, em especial nossos alunos e profissionais”, escreveu o titular da pasta.
As ocorrências fizeram o município entrar em estágio de atenção, segundo o Centro de Operações da Prefeitura. De acordo com o órgão, o estágio de atenção “é o terceiro nível em uma escala de cinco e significa que uma ou mais ocorrências já impactam o município, afetando a rotina de parte da população”.
A Polícia Militar informou que impediu que um grupo com cerca de 15 criminosos colocasse fogo em um caminhão de carga na Avenida Brasil, uma das principais portas de entrada e saída da cidade.
Os ataques ocorrem em um momento em que a Força Nacional de Segurança Pública, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal foram deslocadas ao Rio de Janeiro para auxiliar as forças locais em meio a um aumento da criminalidade.
Segundo fontes do governo do Estado, a possibilidade de uso das Forças Armadas no enfrentando ao crime no Rio também vem sendo discutida com o governo federal.
Impactos
Os incêndios provocaram alterações na circulação de coletivos na zona oeste, região mais populosa da capital. Segundo a MobiRio, as linhas do corredor Transoeste foram interrompidas por questão de segurança pública.
De acordo com Paulo Valente, porta-voz do Rio Ônibus, o episódio evidencia “a inação do Estado diante desses episódios de violência extrema, e que o direito de ir e vir do cidadão é esquecido. O Rio Ônibus mais uma vez repudia com veemência o ocorrido, e apela às autoridades públicas para que tomem uma providência com urgência. É preciso dar um basta nessa situação”.
Repercussão
Em publicação numa rede social, o governador Cláudio Castro celebrou a operação após o episódio com os ônibus e disse “o crime organizado que não ouse desafiar o poder do Estado”.
Para Eduardo Paes (PSD), prefeito do Rio, os responsáveis pelos incêndios, “além de bandidos, são burros”.
“Quando o sujeito além de bandido é burro. Milicianos na Zona Oeste queimam ônibus públicos pagos com dinheiro do povo para protestar contra operação policial. Quem paga é o povo trabalhador. E para piorar, tivemos que interromper serviços de transporte na Zona Oeste para que não queimem mais ônibus”, afirmou Paes.
“Ou seja, únicos prejudicados: moradores das áreas que eles dizem proteger! Essa gente precisa de uma resposta muito firme das forças policiais! Como prefeito, apelo ao Governo do Estado e ao Ministério da Justiça para que atuem para impedir que fatos assim se repitam”, prosseguiu.
(Com informações de João Victor Azevedo, Catarina Nestlehner, Letícia Cassiano e Marcos Rosendo, da CNN, do Estadão Conteúdo e da Reuters)