“Eu também não te condeno” (Jo 8,11). João 8,1-11 narra a cena da mulher adúltera. Estamos diante de um fato premeditado pelos mestres da Lei e fariseus: queriam experimentar Jesus e terem motivo de o acusar, apresentando uma mulher pega em flagrante adultério. Segundo a Lei de Moisés (Dt 22,22; Lv 20,10), um homem e uma mulher surpreendidos em adultério teriam como pena a morte, por apedrejamento. O adultério era uma quebra dos mandamentos, punido com a morte.
No caso apresentando, a mulher já tinha a sua sentença decretada. Dependendo da sua resposta à pergunta dos mestres da Lei e fariseus, Jesus poderia cair em contradição. Se concordasse com as prescrições da Lei, negaria a sua prática de misericórdia; também os judeus não podiam decretar a morte de alguém no Templo judaico ou em lugar público, sem a aprovação da Lei romana; se fosse contrário ao apedrejamento, negaria a Lei de Moisés e poderia ser condenado.
O seu gesto estranho de escrever com o dedo no chão e a sua resposta desarmaram as autoridades, que “foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos”.
“Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”: essas palavras dirigidas à mulher revelam o sentido da missão de Jesus. Ele não aprovou a imoralidade, mas ofereceu a mulher possibilidade de conversão. Não atirou pedras, mas ofereceu o perdão.
Jesus perdoa e nos ensina também a perdoar e a celebrar o perdão.
Esta experiência é fundamental nos relacionamentos humanos. Não é possível uma convivência fraterna sem a prática sincera do perdão. É o remédio para curar as feridas do coração. É um ato de fé que nos leva a acolher as coisa novas (Is 43,19), que consiste em “conhecer a Cristo, experimentar a força da ressurreição” (Fl 3,10).
É só estando em Cristo que recebemos a graça da justificação. Nosso caminho de Quaresma é de conversão, reconciliação e perdão, para podermos celebrar a ressurreição. Não se pode separar Domingo de Páscoa da Sexta-feira Santa.
“Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria”. Dom Paulo.