A primeira infância, que abrange os primeiros seis anos de vida, é considerada uma janela de oportunidades crucial para o desenvolvimento integral das crianças. Segundo o UNICEF, é nesse período que se estabelecem as bases para a saúde, o aprendizado e o bem-estar social e emocional. As experiências vividas nessa fase, como interações sociais, brincadeiras e vínculos afetivos, influenciam diretamente a construção de habilidades socioemocionais essenciais, como empatia, autorregulação e segurança emocional.
Para Gabrielle Delbaje Lemos, especialista em cuidados infantis e com atuação focada na primeira infância desde 2021, tudo começa com um ambiente seguro, afetuoso e respeitoso. “Desde o recém-nascido até os seis anos, o que a criança mais precisa é se sentir segura e aceita como ela é. E isso se constrói no dia a dia, na forma como falamos com ela, escutamos, brincamos, acolhemos os choros e celebramos as pequenas conquistas”, explica.
Gabrielle destaca que não se trata de ensinar emoções como se ensina matemática ou alfabeto, mas de ensinar com o exemplo e com a presença verdadeira. “Eu ensino com o que vivo junto com elas: nas histórias que conto, nos exemplos que dou e, principalmente, na forma como estou presente. Porque não é sobre fazer muito, é sobre estar de verdade”.
Ela também reforça que a empatia e a autorregulação são habilidades que nascem da convivência — e não da cobrança. “Muitas vezes, o adulto espera que a criança saiba lidar com a frustração de não ganhar um brinquedo, por exemplo, sem que antes tenha sido ensinada a esperar. Ou exige que ela diga ‘obrigado’ antes mesmo de saber o que é gratidão. A educação emocional precisa partir do entendimento de que a criança está aprendendo, e que ela só vai conseguir dar algo emocionalmente quando tiver recebido antes”.
Para Gabrielle, isso exige uma mudança de olhar sobre a infância. “Entendo a criança como sujeito de direitos, com tempos, ritmos e formas próprias de ser e estar no mundo. Nesse sentido, minha prática está fundamentada na escuta atenta, na valorização das interações e na construção de experiências significativas, que não estejam pautadas em exigências de desempenho ou expectativas externas, mas sim no reconhecimento da criança como protagonista do seu processo de aprendizagem”.
A especialista também aponta o brincar como uma ferramenta essencial para o desenvolvimento emocional. Brincadeiras simbólicas, jogos de faz de conta, contação de histórias e até momentos de silêncio compartilhado ajudam a criança a nomear sentimentos, entender seus limites e construir vínculos saudáveis. “O afeto e o brincar consciente são os pilares para a formação de seres humanos mais confiantes e felizes”, afirma.
Com base em sua experiência prática, Gabrielle acredita que oferecer esse espaço de escuta e conexão é, mais do que um diferencial, um compromisso ético com a infância. “Cuidar é garantir que essa fase da vida seja leve, segura e cheia de afeto. É criar um espaço onde a criança possa explorar, brincar e sentir, com liberdade e sem pressa — porque ela vai crescer, mas o que vive agora fica pra sempre”.
Para finalizar, a profissional pontua que em tempos de agendas lotadas, tecnologia onipresente e pressões sociais, olhar para a criança com empatia, tempo e escuta pode ser uma das atitudes mais revolucionárias — e transformadoras — que adultos podem ter.