Quem destrói um bem público, comete crime muito maior do que aquele que dilapida uma propriedade particular; quem arrasa um patrimônio histórico-cultural é ainda mais criminoso e merece punição extremamente severa.
Mas os brasileiros olham, para os monstros que invadiram a Praça dos Três Poderes, como se eles fossem apenas militantes políticos.
Comandantes militares, que propiciam as atrocidades cometidas contra nossa cidadania, são traidores da Pátria e merecem a punição que, em tempos de guerra, é aplicada a quem realiza esse crime.
Mas os brasileiros apenas acusam esses vermes fardados de serem marionetes de grupos políticos…
Os invasores, que eventualmente possuam diplomas universitários, precisam ter suas penas agravadas, por motivos que me parecem evidentes. Os oficiais de maiores patentes, implicados nesses eventos deveriam seguir o exemplo japonês, adotando o suicídio ritual. Os mentores (econômicos e intelectuais) do evento, precisam sentir todo o peso de lei.
Observemos o outro lado desse imbecil antagonismo em que vivemos. Alguém acredita que uma centena de ônibus fretados cheguem a Brasília sem serem percebidos? Alguém crê que este Exército Brancaleone tenha se eximido de qualquer comunicação, via redes sociais, de seus intentos? Por consequência, é óbvio que os novos governantes soubessem da trama e, senhores dos recursos necessários, reunissem as condições para barrar o barbarismo que sobreveio.
Não o fizeram. Lula da Silva foi para um proverbial retiro, na acolhedora cidade de Araraquara; ministros do STF, deputados e senadores estavam gozando de suas merecidas férias; e, no domingo, nenhum ministro de Estado ou burocrata qualificado correu o risco de estar em seu local de trabalho…
A solenidade de entrega da faixa presidencial, já prenunciava a tragédia. Muitos acharam bonitinho e emocionante ver o presidente receber a faixa de um grupo de injustiçados sociais. Mas isto é um erro grave: o presidente também governa para profissionais liberais, empresários, homens e brancos. O certo é receber a faixa de quem responde pela presidência, naquele momento, não importando se é o presidente em final de mandato, vice-presidente, presidente do Congresso ou do Supremo. Nessa solenidade escancarou-se a divisão de nossa Nação. E Nação dividida é Nação morta. Presenciamos um Réquiem.
Logo após a ação dos vândalos, a nova Ministra da Cultura fez uma proposta execrável: a de se construir um memorial para advertir os brasileiros contra novas ações golpistas. Não lhe passou, pela sua limitada cabeça, a percepção que esta ação seria apenas uma demonstração de vitória, um “arco do triunfo”, em relação ao bolsonarismo.
A postura do governo, portanto, é igualmente criminosa, embora atenuada por não ter sido ativa. Estamos diante de um nojento episódio de luta pelo poder; os interesses nacionais foram enterrados.
Nossa nação, enterrada junto.
Mauriney Eduardo Vilela (Ney Vilela)
Doutor em História Social
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Unesp de Franca
Grupo Letras e Sons – em defesa da Música Popular Brasileira