O maestro Nazir Bittar fez uso da Tribuna Livre da Câmara Municipal para falar sobre a atual situação da Orquestra Sinfônica de Franca na manhã de terça-feira, 27 , durante a 4ª Sessão Ordinária realizada no auditório do Uni-Facef.
‘O motivo de estarmos hoje aqui, e quando digo estarmos é porque não estou sozinho! Eu nunca estou sozinho! E aqui estão Vera Jacinto Rodrigues Alves, vice-presidente da Associação Cultural da Região da Alta Mogiana (ASCRAM), mantenedora da OSF e seus desmembramentos e que já foi presidente da associação por dois mandatos e hoje representa a atual presidente Cristina Tozi que não pôde estar presente. Temos Dr. Fernando Melo Diretor Jurídico, Raquel Mendes Prior, temos integrantes do Ensemble Vocal da OSF Fernando Diniz, e também amigos e público de nossos concertos que vieram nos apoiar neste momento’ acrescentou.
Em seguida, Nazir pontuou ‘o motivo é colocar vocês vereadores representantes do povo francano a par do que aconteceu e do que está acontecendo na orquestra. Cada um de vocês agora receberá uma cópia do ofício protocolado ontem no Gabinete do Prefeito e na Feac solicitando vistas a questão do vínculo da Prefeitura com a Ascram. E que esse vínculo voltasse as bases anteriores para salvaguardar o único programa cultural regular da cidade promovido pelo Poder Público!’
‘O que aconteceu foi que em abril de 2023, no momento de fazermos o aditamento do contrato que vigorava desde 2009, com interrupção de um ano e meio justamente no final do primeiro mandato do atual prefeito Alexandre em 2016, e só sendo retomado em 2018 no governo Gilson. Houve um retardo nos trâmites internos da FEAC que acarretaram na perda da data limite para aditamento, o que configura perda total do vínculo com a Prefeitura, fazendo-se necessária, a formação de um novo contrato iniciando-se do zero todo o processo’ explicou.
Ele continuou ‘para nós era totalmente inesperado e surpreendente! E em reunião marcada na FEAC para falarmos sobre as comemorações dos 200 anos de Franca, ao invés de falarmos sobre o plano elaborado por mim para as festividades, nos foi informado que o gabinete entendeu que o vínculo da Prefeitura com a Ascram não era mais desejado no formato que se apresentava desde 2009’.
Nazir questionou os critérios usados pela Prefeitura para o encerramento da parceria sob alegação de mudanças na legislação e de que não havia interesse em manter as atividades. ‘Eu me pergunto e pergunto a todos, o que é então interesse da Prefeitura? O prefeito foi confrontado com o fato de termos há anos um projeto que se intitula música para todos que é justamente levar música orquestral nos bairros mais afastados!’ questionou.
‘Foram oferecidos a FEAC e a Secretaria de Educação e que nunca tivera a devida atenção ou interesse, apesar de ser extrema valia na formação de nossas crianças e população em geral, não houve reação’ lembrou.
O maestro citou ‘em outra reunião nos foi informado que a verba mensal de R$ 15 mil que apesar de pouca, viabilizava toda a manutenção da orquestra profissional, da orquestra jovem com uma monitora do Ensemble do Coral, das crianças com dois monitores nos concursos. Seria reduzida, e que a partir de então seriam compras de apresentações individuais a R$ 5 mil’
‘Obviamente que com o corte vertiginoso como esse impossibilita completamente a manutenção de todo o programa cultural em vigor há 15 anos em nossa cidade. E que é de notório sucesso! Vale lembrar que o repasse da Prefeitura começou com R$ 4 mil em 2009, foi para R$ 9 mil em 2010, em 2012 houve um reajuste para R$ 12 mil que perdurou até 2022 sem nenhum tipo de reajuste, e foi então que houve um reajuste para R$ 15 mil para realização de 10 concertos e a manutenção normal do projeto’ disse Nazir.
Em termos de comparação foi citado o investimento na Orquestra Sinfônica de Barretos que recebia R$ 104 mil por mês em 2019.
‘Nos últimos 15 anos, tivemos óperas musicais, concertos nas praças, rodas de samba, concertos diversos na catedral que lotava a igreja e comemorações de eventos na cidade. Na pandemia o Ensemble Vocal OSF percorreu na madrugada os prontos socorros, UPAs e UBSs levando música e alento aos profissionais da saúde tão exauridos pelo cansaço. Fizemos concertos nos bairros e que encantaram a população periférica fazendo com que despertasse o interesse desse público a futuros concertos da orquestra’ recordou.
Nazir concluiu ‘analisando tudo que foi feito nos últimos 15 anos apesar da verba mínima achamos por bem vir aqui e compartilhar essa situação com vocês, pedindo que haja algum movimento dessa casa para que algo tão importante não seja extinto dessa forma. Um projeto só é extinto quando não há verba, o que não é o caso! Quando não há público que também não é o caso! Ou quando o trabalho apresentado é de má qualidade que também não é o caso!’
Alguns vereadores demonstraram insatisfação e irritação com a decisão da Prefeitura em cortar verbas da OSF.
“A cultura em Franca está asfixiada, eles estão matando a cultura em Franca! Festas tradicionais sempre patrocinadas pelo Poder Público, ficaram a ver navios! Não receberam um tostão! Haja visto o Carnaval e o que algumas agremiações tiveram que fazer para que a cidade não ficasse sem absolutamente nada! E pior, porque você pega uma festa como o carnaval e a cidade do tamanho de Franca não investe em um evento cultural que o povo brasileiro curte e gosta!”, lamentou o vereador Gilson Pelizaro (PT).
O presidente da Câmara vereador Della Motta (Podemos) enfatizou ‘eu também vou na linha do Gilson Pelizaro, acho que tem que separar o esporte, da arte e da cultura. É inadmissível! Você interromper um investimento de R$ 15 mil! É um absurdo isso! Eu acho que nós estamos perdendo os artistas, nós estamos perdendo referência, nós estamos perdendo a oportunidade de fazer a diferença na vida de pessoas!’
‘Depois nós reclamamos, as pessoas desse naipe estão indo embora da cidade. É inadmissível nos 200 anos de Franca a nossa orquestra não fazer parte! É a mesma coisa colocar o Maestro Nazir Bittar para tomar conta de atletas de alto rendimento, não se coaduna essas coisas! Tanto é que uma secretaria de arte e cultura é necessária a nossa cidade, olha o tanto que a questão da valorização do ser humano, nós tratarmos para tirar essas crianças trazer para a música e manter uma referência um maestro’ ressaltou.
Della Motta concluiu ‘vamos colocar peso nesse ofício e também vamos fazer uma provocação ao Poder Executivo. Não é porque são 200 anos de Franca, poderia ser os 300, mas desde o início ter sempre a presença da nossa valorosa orquestra, é a valorização é a cultura! Nós só melhoramos o país através de educação e cultura, nós não melhoramos o país através de outras coisas’.