O próximo dia 13 de janeiro marca os cento e dezessete anos de nascimento de Paschoal Carlos Magno, aquele a quem considero o maior incentivador cultural já nascido neste país. A data deverá passar batida, como em anos anteriores, não só pelas autoridades ditas culturais desta nação, bem como pela própria mídia. Mas como seu amigo faço questão de comemorá-la, e reconstituir alguns de seus feitos pela cultura brasileira.
Em 1965, ao receber em doação de seu amigo João Pinheiro Neto, uma histórica fazenda do século XIX, situada no município de Paty do Alferes (RJ), onde havia ocorrido a revolta de Manuel Congo, Paschoal Carlos Magno resolveu transformar esse lugar na Aldeia de Arcozelo. Um lugar onde sonhou implantar uma Universidade das Artes, para estudantes de teatro, música, dança e outras atividades artísticas, que não dispunham de condições financeiras para arcar com tais estudos. Um retiro para artistas e intelectuais.
Nesse projeto dilapidou toda sua fortuna, inclusive seu casarão de família em Santa Tereza, que teve que ser vendido para saldar dívidas. Suas obras de arte onde se incluíam trabalhos de Di Cavalcanti, Picasso, Portinari e tantos outros, foram leiloados para a obtenção de recursos para a concretização do sonho louco que era a Aldeia de Arcozelo. Filho de imigrantes italianos seguiu a carreira diplomática, sendo dela afastado pelo golpe militar de 1964. Nascido em 13 de janeiro de 1906, portanto há 112 anos atrás, faleceu em 24 de maio de 1980.
Em 1937 inaugura a Casa do Estudante do Brasil, através de uma coleta de fundos que realizou no Rio de Janeiro, mas anteriormente, em 1930, já havia sido premiado pela Academia Brasileira de Letras, por sua peça “Pierrot”. Através de sua montagem de “Hamlet”, dirigida pelo alemão Hoffmann Harnisch, revela para o Brasil o talento de Sergio Cardoso. Em 1952 inaugura em sua casa em Santa Tereza, o Teatro Duse. Ali surgiram outros talentosos artistas do nosso teatro, entre os quais Cacilda Becker, que saiu de Santos, levada por Miroel Silveira.
Ao assumir a Presidência da República, Juscelino Kubitschek o transforma em seu Ministro sem pasta, para cuidar exclusivamente dos assuntos culturais de seu governo. Estava criada a figura do agitador cultural oficial, e dentro desse espírito tratou de disseminar a produção cultural por todo o país, procurando novos talentos em todos os rincões do Brasil. Nesta época resolve realizar o primeiro Festival Nacional de Teatro de Estudantes, o que concretiza na cidade do Recife, em 1958, onde conseguiu reunir oitocentos estudantes de todo o Brasil.
Além deste, realizou outras seis edições do Festival, sendo que a segunda ocorreu em 1959 na cidade de Santos, onde contou com a colaboração de Patricia Galvão e Geraldo Ferraz. Neste segundo Festival revelou para o país os talentos de Plínio Marcos, Amir Haddad, José Celso Martinez Correia, Etty Frazer, Fernando Peixoto, Renato Borghi, entre outros.
Envolveu-se na luta pela construção de teatros em várias cidades, entre as quais situo São Carlos e Santos. Sua última criação foi a Barca da Cultura, em 1974, que desceu o Rio São Francisco levando dezenas de artistas que se apresentavam nos povoados ao longo desse rio. No entanto seu grande sonho, a Aldeia de Arcozelo, hoje pertencente à Funarte, órgão do Ministério da Cultura, continua aguardando que a sensibilidade governamental desperte, e transforme esse sonho, na realidade que todos nós, homens e mulheres da cultura tanto desejamos, antes que todos os seus imóveis sejam demolidos pelo tempo.
Recuperar e reconstruir a Aldeia de Arcozelo seria a mais justa das homenagens que poderia ser prestada a Paschoal Carlos Magno, seguramente o maior agitador cultural que o Brasil conheceu. Quando surgirá outro?
Carlos Pinto
Jornalista e Presidente do ICACESP
Instituto Cultural de Artes Cênicas do Estado de São Paulo