Em discurso na avenida Paulista, o presidente Jair Bolsonaro repetiu as ameaças contra o STF (Supremo Tribunal Federal). E voltou a dizer que só Deus o tira do Palácio do Planalto. “Digo aos canalhas que nunca serie preso.”
O presidente chamou de “canalha” o ministro Alexandre de Moraes e voltou a atacar o sistema eleitoral brasileiro, em ataque direto ao presidente do TSE, Luís Roberto Barroso. Voltou a pedir voto impresso na disputa de 2022, apesar de esse projeto já ter sido derrubado pelo Congresso.
Bolsonaro pediu a saída de Moraes do Supremo. “Deixe de oprimir o povo brasileiro.” O presidente disse que a “paciência do nosso povo já se esgotou”.
“A essas pessoas que abusam da força do poder para nos subjugar. Dizer a esses poucos que agora tudo vai ser diferente. Nós continuarmos jogando dentro das quatro linhas, mas nao mais admitiremos, qualquer uma dessas outras pessoas a jogar fora dessas quatro linhas.”
Os atos desta terça-feira foram dominados por discursos golpistas do presidente e por faixas, cartazes e gritos autoritários de apoiadores. O STF foi o principal alvo, em especial os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, esse último presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Moraes foi o responsável por decisões recentes contra bolsonaristas que ameaçam as instituições. O ministro tem agido a partir de pedidos da PGR (Procuradoria-Geral da República), sob o comando de Augusto Aras, indicado por Bolsonaro, e da Polícia Federal, órgão subordinado ao presidente.
O Sete de Setembro também foi marcado por um factóide do presidente que envolveu STF e Congresso.
Bolsonaro chegou a anunciar uma reunião para esta quarta-feira (8) com os presidentes de Supremo, Câmara e Senado, mas assessorias de Luiz Fux, Rodrigo Pacheco (Senado) e Arthur Lira (Câmara) disseram que não há nenhuma previsão de reunião.
Anunciado por Bolsonaro nos últimos dois meses como uma espécie de tudo ou nada para ele, as manifestações do Sete de Setembro podem ampliar o seu isolamento político, no momento em que, de olho em 2022, depende do STF e do Congresso para a liberação de recursos e aprovaçção de projetos.
Bolsonaro usou toda a estrutura da Presidência para os atos com ameaças golpistas. Tanto no deslocamento entre São Paulo e Brasília como em sobrevoos em helicópteros da Esplanada dos Ministérios e da Paulista. O presidente é candidato à reeleição e alvo da Justiça Eleitoral.
Pela manhã, em Brasília, Bolsonaro fez um discurso de ameaças ao STF. Ele disse que não aceitará que qualquer autoridade tome medidas ou assine sentenças fora das quatro linhas da Constituição.
“Ou o chefe desse Poder enquadra o seu [ministro] ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos”, disse Bolsonaro em recado ao presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, em referência às recentes decisões do ministro Alexandre de Moraes contra bolsonaristas.
“Porque nós valorizamos e reconhecemos e sabemos o valor de cada Poder da República”, ressaltou. Além de Moraes, o ministro Luís Roberto Barroso, também presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é alvo dos ataques de Bolsonaro nas últimas semanas.
“Nós todos aqui na Praça dos Três Poderes juramos respeitar a nossa Constituição. Quem age fora dela se enquadra ou pede para sair”, disse o presidente, em um caminhão de som na frente do gramado do Congresso Nacional.
“Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil”, disse Bolsonaro em referência a Moraes.
“Esse retrato que estamos tendo neste dia não é de mim nem ninguém em cima desse carro de som, esse retrato é de vocês, é um comunicado, um ultimato para todos que estão na praça dos Três Poderes, inclusive eu presidente da República para onde devemos ir.”
Ainda em seu discurso, Bolsonaro disse que nesta quarta-feira (8) terá uma reunão com os chefes dos demais Poderes.
“Amanhã [quarta-feira] estarei no Conselho da República juntamente com ministros para nós, juntamente com presidente da Câmara [Arthur Lira], Senado [Rodrigo Pacheco] e do Supremo Tribunal Federal, com esta fotografia de vocês mostrar para onde nós todos devemos ir.”
Além do tamanho do público, as expectativas se concentram no teor do discurso do presidente, que anunciou o levante do 7 de Setembro como algo histórico e dissimulou as pretensões de ruptura da ordem institucional e democrática que estão na raiz da mobilização.