As reclamações pela espera no atendimento do pronto socorro municipal Álvaro Azzuz têm sido frequentes, chegando a durar de seis a oito horas. O autônomo Vítor Ferreira entrou em contato com a Sociedade Organizada e relatou que nesta quarta-feira permaneceu aguardando das 11 às 17 horas, com suspeita de dengue. “Perdi meu dia de trabalho e ainda tinha uma senhora esperando internação há três dias, estava tudo lotado, até a ala Covid, mas a culpa não é dos médicos, está faltando médico”, declarou Vítor à reportagem.
A equipe do Portal Fato no Ato e Sociedade Organizada apurou que desde o início de 2021 diversos médicos solicitaram o descredenciamento da prestação de serviços da prefeitura de Franca, pela sobrecarga de trabalho em razão da escassez de médicos e pelo pagamento de horas abaixo do ofertado por outras prefeituras. Profissionais da saúde que não iremos identificar para evitar perseguições relataram que estão sendo escalados apenas dois médicos aos finais de semana, “o pronto-socorro infantil está um caos e nenhum médico quer voltar a trabalhar, mas depois que a Giane, assumiu o cargo piorou muito, os médicos não suportam, ela trata todo mundo mal, nós precisamos da ajuda da imprensa para cuidar das crianças, porque aqui a coisa está feia”, desabafou o médico. Giane Stefani é a diretora responsável pelo departamento de urgência e emergência.
Outras denúncias comprovaram que a UBS do Jardim Brasilândia está sem enfermeiro e uma mulher foi impossibilitada de agendar seu pré-natal e realizar os exames, o que só pode ser efetuado por enfermeiros. A atendente lhe informou que a enfermeira da unidade está cumprindo licença maternidade e ainda não foi substituída por outro profissional: “aqui não estamos fazendo nem o exame do pezinho porque não tem enfermeira, você tem que fazer em outra unidade”. Um médico vinculado à secretaria de saúde municipal explicou que a falta de uma enfermeira na unidade básica pode gerar perda de verba federal, pois o ministério da saúde pode cortar a verba quando a unidade permanecer por três meses sem profissional de enfermagem, ainda esclareceu que sem o profissional os técnicos não podem administrar determinados remédios e não podem ser realizados curativos nos pacientes, ele enfatizou: “é um transtorno imenso para a população do bairro que está sendo desassistida pela saúde, sem o pré-natal as crianças podem nascer prematuras e a possibilidade de haver complicações no parto é ainda maior”.
Em contato com os médicos descredenciados, três disseram não querer falar por temerem perseguições do prefeito e nunca mais conseguirem trabalhar na prefeitura, entretanto o médico pediatra Dr. Marcos Vinicius disse que ele e outros colegas pediram o descredenciamento em face da redução salarial e pela falta de plantonistas que acabava por sobrecarregar os demais, pois após a pandemia aumentou o volume de pacientes que passaram a utilizar o SUS.
“Na época do Gilson era diferente, ele tinha uma atenção maior com a saúde, todo mundo sabe, ele respeitava os médicos, mas essa nova administração que está aí nós já conhecemos, não estão nem aí. Eles queriam reduzir o salário de R$ 1.920,00 para R$ 1.100,00. Eu estive esses dias no pronto-socorro e estava lotado, é uma pena o que está acontecendo com a saúde de Franca”,
declarou o médico pediatra, cuja especialidade é a que mais falta no sistema de saúde. Questionado se retornaria ao atendimento, ele disse que sim, se os profissionais fossem valorizados e financeiramente fosse viável.