Lula fez um discurso aos governadores e chefes da câmara nesta segunda-feira (9), após os ataques de terroristas bolsonaristas na Praça dos Três Poderes no domingo (8). O presidente da República reuniu os 27 governadores para reafirmar a defesa do Estado Democrático de Direito.
Ele citou que gostaria de ter feito uma reunião para saber os principais projetos dos governadores, mas os atos antidemocráticos mudaram os planos. “Hoje nós estamos reunidos aqui, diferentemente do que imaginava, porque eu tinha proposto era reunir os 27 governadores os três mais importantes projetos de cada estado, para ver se a gente trabalhava junto, arrumava dinheiro ou financiamento para colocar o país para andar. Quis Deus que essa reunião não acontecesse antes dessa”, afirmou.
“Vocês vieram prestar solidariedade ao país e à democracia. O que nós vimos ontem foi uma coisa prevista, isso tinha sido anunciado, as pessoas que estavam nas ruas, nos quartéis, não tinham pauta de reivindicação. Essa gente só queria um recurso tentando negar o processo eleitoral, tentando mostrar falhas nas urnas”, pontuou.
Lula teceu críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, ao Exército e que Bolsonaro teria antecipado a saída e deixado apoiadores sem rumo. “Eles estavam reivindicando golpe. Era a única coisa que se ouvia falar, que só chamavam golpe e quando o presidente da República saiu antecipadamente sem me dar a posse, que o vice fez um pronunciamento na televisão, eles atacaram generais e chamaram o vice de covarde”, disse.
“Muitas vezes quando a gente mente, a gente segue mentindo para justificar a mentira que contamos. Foi assim com Saddam Hussein e a história da humanidade mostra, quantas pessoas seguiram mentindo para justificar a mentira. E aqui seguiram mentindo para justificar a mentira da urna eletrônica”, exemplificou.
Lula culpabilizou Bolsonaro pelo caos no Estado Democrático. “Na medida em que as pessoas ficam sem líder, porque ele antecipa a saída, as pessoas ficaram na rua sem ter o que fazer, então foram no quartel pedir o golpe. Nós aqui todos, maiores de idade, sabemos que já teve gente nesse país que foi preso e torturado, outros que morreram na cadeia porque ousaram derrubar o governo”, afirmou e continuou:
“Sabemos quanta gente foi torturada por não apoiar a ditadura militar. Não foi feito nada por nenhum quartel, nenhum general se moveu para dizer que era proibido. Dava a impressão que gostavam quando clamaram o golpe, a impressão que tenho é que o Exército em São Paulo ficou meses com o povo gritando. Olha que nós não fizemos nada até que eles fizeram. Eles fizeram aquilo que a gente não esperava que eles fizessem”.
O presidente da República pontuou que o governo do Distrito Federal foi negligente e a polícia militar atuou com conivência. “Eu não quis acreditar, porque a polícia de Brasília negligenciou, a inteligência de Brasília negligenciou, é fácil ver os policiais conversando com os agressores. Na minha diplomação, o quebra-quebra que teve em Brasília, a polícia acompanhava e nada foi feito. Havia conivência explícita da polícia”, criticou e citou o Exército:
“Mesmo aqui dentro, soldado do Exército conversando como se fossem aliados. Até que resolvemos fazer uma intervenção, porque o responsável pela segurança estava sob suspeita há muito tempo”.
Lula prometeu que as pessoas envolvidas serão culpabilizadas e ficarão presas até que o inquérito sobre os atos sejam terminados. “Graças a Deus, conseguimos da forma mais tranquila, saber que as pessoas foram retiradas e cada um que entrava no ônibus, era levado para a Polícia Federal. Elas vão ficar presas até que a gente termine o inquérito”, afirmou.
“Não vamos parar de investigar esses que possivelmente são vítimas, massa de manobra. Porque os mandantes certamente não vieram aqui e queremos saber quem financiou para as pessoas ficarem tanto tempo e vocês sabem que sou especialista em acampamento, greve, num monte de coisa. Não é possível o movimento durar o tempo que durou sem financiamento”, criticou.
Lula, por fim, disse que não deixará a democracia escapar pelas mãos, porque é a única maneira que o povo tenha o direito de “comer três vezes ao dia ou consiga trabalhar”. “É a única razão que eu conquistei o terceiro mandato na presidência da República”, citou. Para ele, a reunião não é fácil, mas Lula quer dia 27 fazer outra reunião para discutir os interesses do povo de cada estado.
Na reunião, a governadora em exercício Celina Leão, que assumiu o governo após Ibaneis Rocha ser afastado pelo ministro Alexandre de Moraes, defendeu o político afastado e reiterou que o Distrito Federal não aceitará mais ataques à democracia.
“É um dia de luto na história da democracia para todos nós, para nós no Distrito Federal é muito mais grave, porque a responsabilidade recai sobre nossos ombros”, começou. No discurso, ela aproveitou para defender Ibaneis Rocha. “Ele é um democrata, exerceu a presidência da ordem, sabe o que significa um ataque aos poderes da República, preciso trazer o posicionamento do govenador, mas que por infelicidade recebeu informações equivocadas durante a crise, tive a oportunidade de falar com ele”, citou.
“Acompanhei junto do ministro Padilha, do Dino e não saí do Ministério da Justiça até que todos os poderes estivessem controlados. Tínhamos ameaças de bomba, incêndio, a realidade é que todas as informações repassadas ao governador partiram de forma equivocada”, afirmou.
Celina reiterou a força do Distrito Federal contra os ataques de bolsonaristas. “No bojo do inquérito isso será esclarecido e as pessoas punidas. Mais importante do que isso, é reafirmar que o governo do DF realmente trabalha com a democracia”, pontuou.
Depois de Celina, o ministro da Justiça, Flávio Dino, citou que a intervenção na segurança do DF é temporária. “Nós, com a colaboração das autoridades do DF, estamos executando a intervenção federal temporária, excepcional e datada na segurança pública do DF. Para que haja também a responsabilização administrativa”, disse.
Além dos governadores, Rosa Weber, presidente do STF, esteve na reunião e agradeceu ao apoio. “Eu estou aqui em nome do STF agradecendo a iniciativa dos governadores e governadoras, de testemunharem a unidade nacional de um Brasil que todos nós queremos, no sentido da defesa da democracia e do Estado Democrático de Direito”, citou.
“O STF foi duramente atacado, nosso prédio histórico foi inteiramente destruído, em especial o nosso plenário, esta simbologia, né, a mim, entristeceu de uma maneira enorme, mas quero assegurar a todos, que no dia 1º de fevereiro, daremos início ao ano judiciário, como se impõe ao poder judiciário independente e guardião, no caso do STF, da nossa Constituição Federal”, reiterou.
Por fim, ela reforçou que a reunião mostra a unidade do Brasil. “Esse apoio, essa solidariedade sobretudo o sentido desta união em torno do Brasil, que todos queremos, um Brasil de paz, solidário, um Brasil fraterno, extremamente importante e por isso, eu renovo o meu agradecimento a todos”, completou.