A Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Coronavírus da Câmara Municipal de Franca ouviu dois importantes depoimentos na manhã de hoje, 17. Caio Carvalho, ex-chefe da Vigilância Sanitária, e Cleber Benedito, ex-responsável pela Vigilância Epidemiológica, explicaram o motivo de terem sido exonerados recentemente de seus cargos e comentaram as falhas na campanha de imunização contra a covid-19. Ambos são servidores de carreira na Prefeitura e apenas perderam suas funções gratificadas.
Compareceram os vereadores Donizete da Farmácia (MDB), o presidente da comissão; e os membros Gilson Pelizaro (PT), Marcelo Tidy (DEM) e Lurdinha Granzotte (PSL), além de funcionários da Casa de Leis.
As duas oitivas foram tomadas separadamente. O primeiro a ser questionado foi Caio, o qual explicou que a Vigilância Sanitária cuida da logística da campanha de vacinação. Sobre sua demissão, Carvalho afirmou que o prefeito Alexandre Ferreira (MDB) o exonerou porque ele estava à frente da Vigilância Sanitária e o chefe do Executivo queria dar uma resposta à população. “Ele exonerou a pessoa errada?”, perguntou Tidy, ao que Caio respondeu: “Acredito que sim”.
Segundo Caio, os critérios de utilização da xepa (sobra de doses em frascos abertos, que precisam ser aplicadas em poucas horas antes de perderem a eficácia) era a aplicação em idosos ou profissionais da saúde – e que as doses não poderiam ser desperdiçadas. Por causa disso, ele viabilizou a vacinação de dois parentes próximos, ambos com 64 anos, uma semana antes da sua faixa etária ser contemplada pelo cronograma oficial. Perguntado se as doses remanescentes não deveriam ser disponibilizadas à população em geral, Carvalho explicou que isso levaria ao caos, com uma demanda grande demais para ser atendida.
As informações prestadas por Cleber corroboraram as de Caio. O ex-chefe da Vigilância Epidemiológica esclareceu que, no dia 9 de março, quando sobraram 24 doses e estas estavam prestes a expirar, foi obrigado a vacinar familiares que já eram idosos. Ele inclusive informou que a responsável pela Vigilância Epidemiológica do DRS (Departamento Regional de Saúde) fez o mesmo com uma parente próxima, também idosa, mas ainda fora da faixa que estava sendo imunizada naquele momento. Na opinião de Cleber, o prefeito pode tê-los exonerado por estar incomodado com as implicações morais de seus responsáveis pela Vigilância terem vacinado parentes.
Benedito aproveitou para esclarecer como funciona a imunização em Franca. A Vigilância Epidemiológica armazena, distribui e controla o estoque das vacinas. O órgão passou a utilizar o protocolo de imunização da H1N1 (gripe suína) devido ao referente à covid-19 não ser abrangente – este não é claro sobre o que fazer com a sobra técnica, por exemplo. Além disso, o protocolo da H1N1 acabou gerando falhas na listagem de vacinados, como profissionais da saúde com mais de 60 anos sendo classificados como idosos.
Benedito desmentiu relatório preliminar da sindicância da Prefeitura. O documento alegou que “a determinação do Senhor Secretário [de Saúde, Lucas Souza] para a destinação das sobras técnicas não foi cumprida pela Vigilância Epidemiológica”. Para Cleber, o secretário teria solicitado a vacinação prioritária a profissionais de saúde, enquanto a orientação oficial da DRS era para aplicar as doses primeiramente em idosos. A indefinição sobre a questão, então, dificultou uma aplicação organizada da xepa. De acordo com ele, a Secretaria de Saúde já sabia da sobras das doses desde o dia 4 de fevereiro, mas nenhuma lista de espera oficial foi montada e divulgada à população.
Ações da Frente
Os membros da Frente Parlamentar consideram as falas de Cleber e Caio bastante oportunas e proveitosas, as quais permitiram a abertura deu novas linhas de investigação, conforme explicou Gilson Pelizaro:
“A partir de agora, temos que realizar novas rodadas de entrevistas. Precisamos conversar com o secretário de Saúde Lucas Souza e os chefes responsáveis pela Atenção Básica [que também organizaram a campanha de vacinação]. Os ex-chefes da Vigilância justificam as imunizações de parentes porque estavam atendendo a determinação legal, mas checaremos a moralidade disso e se houve algum tipo de vantagem. Também entendemos que há uma divergência entre o relatório da sindicância e o relato dos ex-chefes da Vigilância. Vamos verificar se existem por escrito todas essas orientações e por que houve esse conflito de informações”.
Bruno Piola – Diretor de Comunicação Institucional