No próximo dia 14 de março de 2023 chega ao fim um dos mais longínquos mandatos de deputado estadual por Franca na Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp). Sem dúvida, um marco na carreira política do deputado estadual Roberto Engler. Nesta entrevista exclusiva ao comunicador Luis “Dedão”, do portal FNT, Engler conta a sua trajetória e relembra as suas mais importantes conquistas ao longo das últimas quatro décadas—32 anos como deputado estadual e mais 8 anos como vereador—. Ele confirma que encerra a vida pública com o final deste mandato e como plano para o futuro só quer descansar e aproveitar a companhia da família.
São oito mandatos consecutivos e com certeza o senhor tem muita história pra contar. Poderia mencionar os projetos que considera mais importantes para Franca e região?
As realizações mais relevantes são aquelas que melhoram a vida do maior número de pessoas. Eu acredito nisso. Então, pra dizer o que foi mais importante, fica difícil fugir daqueles projetos concluídos que estão atendendo ao povo de Franca e região. Vou me lembrar sempre do AME (Ambulatório Médico de Especialidades), do Poupatempo, dos avanços na área da Educação, seja nas escolas estaduais, seja nas nossas Etec, seja na Fatec, seja no campus da Unesp de Franca. Foram anos de firme parceria com a nossa Santa Casa, Allan Kardec, nossas entidades. Temos as muitas melhorias viárias, em especial nas rodovias Cândido Portinari e Ronan Rocha, que são obras que dão conforto e também salvam vidas. Na área da Cultura, uma conquista maravilhosa é o Projeto Guri, que tem em Franca um dos seus principais polos no estado de São Paulo e que vem oferecendo iniciação musical a centenas de crianças. Por aí vai. Mas eu considero que o projeto mais importante mesmo sempre foi exercer o mandato de forma responsável e ser, como fui ao longo de três décadas, alguém que fala em nome de Franca e região.
Esse foi o segredo da longevidade como deputado?
Acho que foi. Teve alguém dizendo que ser deputado estadual por 32 anos não é normal. E não é mesmo. Exige muita dedicação, muito trabalho, muito comprometimento com a população. Porque ganhar uma vez é mais fácil do que três, quatro, oito vezes. Há um desgaste natural do representante, especialmente se ele não consegue fazer jus à responsabilidade que lhe é conferida. Assim, penso que, de alguma forma, fizemos muitas coisas boas para ser aprovados seguidas vezes no crivo da população. Adquirimos um respeito enorme junto às lideranças das cidades, em São Paulo, dentro da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Isso é motivo de orgulho.
Tem algum projeto que o senhor gostaria de ter apresentado e não teve jeito?
Veja que em termos de projeto de lei a gente teve algumas boas ideias, muitas delas aprovadas, mas a verdade é que o deputado estadual quando se fala de legislação fica muito restrito em termos de iniciativa. Toda hora que a gente identifica algo que pode dar uma boa proposta vai ver e é inconstitucional, porque é prerrogativa do Executivo, porque é coisa que só a Câmara Federal pode fazer ou até mesmo é assunto pras Câmaras Municipais. Então, em termos de leis, acredito que fizemos o que foi possível. Em termos de conquistas, há duas questões que não foram concluídas. A primeira delas, que está em andamento agora, é a pavimentação da Estrada Velha Franca-Batatais. Por duas vezes, tivemos a palavra do Governo de que ia sair e a coisa não andou. O pessoal ficou na bronca. E com razão, porque não se confirmou e porque é uma obra importante. Acredito que desta vez vai (a licitação da obra está em fase final). O segundo é a questão do Conservatório Musical de Franca, algo que a gente mexeu muito, viabilizou terreno, projeto e tudo mais, mas não se colocou em prática ainda.
Pode fazer um balanço dos teus mandatos?
O grande mérito do parlamentar é saber ouvir o que vem da base. O que dizem as lideranças, as pessoas, os parceiros políticos. Esse é o balanço do nosso mandato: buscamos sempre ouvir. Nem sempre a gente ouvia e enxergava no que ouvia uma forma de fazer. Até porque quem está disposto a ouvir ouve de tudo. Mas esse sempre foi o nosso jeito de exercer o mandato parlamentar. Você me perguntou há pouco sobre os grandes projetos. Um dos meus maiores orgulhos não foi um projeto, foi a luta, lá no início de 2016, contra a implantação de três novos pedágios na nossa região. Tenho um imenso orgulho de lembrar tudo o que tivemos de fazer naquela época. Foi o povo na rua e a gente bradando na tribuna da Assembleia Legislativa. Exceto alguns vereadores, nenhuma liderança política de Franca se indispôs com o então governador Geraldo Alckmin, pra impedir a injustiça. Todo mundo se calou. Veja, você, como é curioso. Esse é um episódio que não foi um projeto nem uma realização concreta, mas não deixa de ser um orgulho imenso também. Foi o uso de todos os recursos do nosso mandato para evitar algo que ia penalizar a nossa população, cobranças a mais sem previsão de retorno algum.
Aproveitando que o senhor se lembrou dessa questão dos pedágios, o senhor acha que aquilo foi um marco no sentido de enfraquecer a sua atuação, já que houve um rompimento com o governador Geraldo Alckmin e, depois, mudança de partido?
Primeiro eu acredito que a decisão foi muito fácil. Entre o povo que acreditou em mim e me elegeu seu representante e o governador, o partido ou quem quer que seja, eu só poderia ficar com o povo de Franca e região. Agora, não há dúvida de que foi um momento de desgaste político junto ao Governo. Um Governo que prometeu que não iria colocar mais pedágios na região depois de duplicar e investir nas rodovias e quis fazer diferente de uma hora pra outra, sem conversa, sem aviso e sem sentido. Ainda assim, não creio que isso tenha enfraquecido a nossa atuação. Ao longo dos anos, o relacionamento que construímos com as mais diversas secretarias sempre foi muito bom, muito forte, e os nossos pleitos continuaram sendo atendidos. O Palácio dos Bandeirantes também não se fechou, embora eu saiba que o nosso posicionamento contundente tenha surpreendido alguns. Fora isso, é preciso dizer que a mudança de partido, em 2018, não ocorreu por causa do então governador Geraldo Alckmin e, sim, porque João Doria tomava o PSDB de assalto naquele momento. Isso, aliado a um valoroso convite que me foi feito pelo então vice-governador Márcio França.
O senhor teve algum inimigo público ao longo dos teus mandatos?
Nunca. Tive adversários políticos, pessoas que respeitei e respeito, mas que pensavam diferente em algum momento. Ninguém agrada a todos, isso é natural. Além disso, o meio político é repleto de vaidades – todos temos – e formas diferentes de enxergar as situações. É natural que haja conflitos.
Tua vida política se encerra com o fim deste mandato?
Ah, sim. São 32 anos de deputado estadual, mais de 40 anos de vida pública.
Faltou algo? Ser prefeito de Franca, talvez?
Olha, Dedão, esse foi um sonho lá no começo. Mas não deu certo e hoje eu acho que não aconteceu justamente porque havia muitas outras coisas boas pra realizar por outros caminhos. Por isso, eu posso dizer que não faltou nada. Eu tive uma passagem enriquecedora pela Câmara Municipal, ao lado de pessoas incríveis, inteligentíssimas, que me ajudaram a amadurecer muito. Depois, disputei a Eleição de 1988, pra prefeito, que foi uma campanha que me mostrou o lado humano da política, uma campanha em que eu vi o sofrimento do povo francano, visitando suas casas, presenciando suas mazelas, suas dificuldades. Uma campanha que ajudou a formar o meu caráter como político. Depois, veio a Assembleia Legislativa, o aprendizado sobre a forma de fazer política em um Legislativo de grande porte. A partir daí, entendi bem o que era exercer o cargo de deputado estadual e estabeleci o meu lema: política é a melhor forma de fazer o bem para as pessoas. E é nisso que eu acredito.
Quais são os planos para o futuro?
Descansar e aproveitar a companhia da família.
Com apoio do assessor parlamentar Wildnei Teodoro
Fotos: Vera Massaro/Agência Alesp