Tem se tornando frequentes as notícias sobre as catástrofes causadas pelas mudanças climáticas em nosso mundo. Mais recentemente, Franca novamente contou com episódios de ventos bruscos, inundações, granizo… e com isto diversos prejuízos.
Não é de agora, porém, que sabemos que este nosso mundo está fadado a se tornar cada vez mais inóspito diante das intervenções humanas impensadas. A natureza sempre tem uma resposta. Não se trata de vingança, como bem pontuou nesta semana o Promotor de Justiça, Paulo César Corrêa Borges, mas sim adaptações que ela encontra frente a impermeabilizações, assoreamento, ausência de arborização, dentre outras ações humanas.
O meio ambiente é constitucionalmente protegido, mas tem sido negligenciado na pauta de discussões e negociações globais, que nunca se atentaram ao fato de que há uma emergência climática, que não aguardará a vontade postergada.
Mesmo que a ONU tenha reconhecido em 2022, através de sua Assembleia Geral, que o direito a um meio ambiente limpo, saudável e sustentável é um direito humano, a maioria das ações globais não tem sido promissoras em virtude dos vetos de grandes potências que baseiam sua economia no carbono, com grandes emissões de gases de efeito estufa.
Entre terroristas e negacionistas do clima, o sofrimento vem para todos, cada qual à sua maneira, pois as mudanças climáticas também possuem recorte de racismo ambiental, que penaliza estruturalmente pretos e pardos.
Um relatório da OXFAM divulgado em 2023 revela que a parcela mais rica da população, com apenas 1% dos habitantes do planeta, foi responsável pela emissão dos gases de efeito estufa na mesma proporção do que 66% da população mais pobre.

A responsabilidade pelo aquecimento global é marcada por padrões de consumo, e devido à precariedade de padrões construtivos, localização de moradias e falta de recursos para oposição a mudanças climáticas já sentidas, a parcela mais pobre da população é a que mais sofre com o aquecimento global.
A economia baseada no carbono é a principal vilã das mudanças climáticas, que afetam mais sensivelmente as populações mais pobres. A emergência climática é também uma emergência sobre igualdade social.
Assim, é medida imperiosa que além das transformações ecológicas urgentes, haja uma preocupação real para assegurar que uma economia de baixo carbono se atente ao não agravamento das desigualdades.
Em Interestelar, do diretor Christopher Nolan, vemos a icônica figura de Cooper que se vê na missão de deixar a família para liderar um grupo de cientistas que buscará alternativas interplanetárias de mundos habitáveis, para a migração da população terrestre, que já lida com o esgotamento das reservas naturais da Terra.
A película chama a nossa atenção para um cenário disruptivo e de destruição, pois paulatinamente a Terra tornou-se tão inóspita que viver por aqui se tornou um desafio.
Entre a ficção e a realidade, Interestelar é um convite a (re)pensarmos nossas ações como cidadãos em busca de alternativas palpáveis para a mitigação, adaptação e transformação ecológica nesse contexto de mudanças climáticas. A questão é que aquilo que chamamos de ficção científica mostra-se cada vez mais real no nosso dia a dia.
Proposta que defendemos na 5ª Conferência Municipal de Meio Ambiente, ocorrida em Franca/SP, no último dia 24 (sexta-feira), aprovada na Plenária final, prevê que projetos financiados pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH) tenham, obrigatoriamente, ao menos um item de sustentabilidade, como captação para reúso de águas da chuva, energia limpa, padrões e materiais construtivos sustentáveis, dentre outros. Há previsão, ainda, de condições facilitadas de negócio e juros decrescentes quanto mais itens de sustentabilidade estiverem previstos no projeto.
Outras propostas interessantes aprovadas incluem a ampliação da arborização urbana, a criação de parques agroecológicos e sustentáveis, com envolvimento da população na sua concepção, cuidado e gestão, através de sistemas de economia circular. Franca desponta no cenário regional como uma das únicas cidades a realizar a Conferência Municipal de Meio Ambiente, com eleição de 5 (cinco) delegados para representação em São Paulo, durante a realização da Conferência Estadual de Meio Ambiente, prevista para março deste ano.
Mais do que promover esses ambientes de gestão democrática e participativa de propostas para combater as mudanças climáticas, necessitamos de adesão séria e comprometida de cidadãos, empresas, organizações sociais e o Poder Público, num esforço conjunto para que possamos superar um padrão cultural que nos trouxe até esse estado de caos natural.
O lucro, como referido por BaianaSystem em sua canção, não pode ser uma máquina de loucos, a ponto de sufocar nossas praias, nossos ecossistemas e nosso planeta, pois não há uma segunda opção de vida. Urge uma transformação ecológica que descarbonize a economia, transformando um padrão de consumo de produtos de petróleo, para uso de sistemas de energia limpa e sustentável.
PARA VER: Interestelar (2014, Christopher Nolan, na Max)
PARA OUVIR: Lucro (descomprimindo) (BaianaSystem – 2016) – “lucro, máquina de louco. você pra mim é lucro, máquina de louco”
PARA LER: Justiça climática (Mary Robinson, tradução de Leo Gonçalves e Clóvis Marques, Editora Civilização Brasileira, 2021)