Cachorros têm sido empregados com sucesso como coadjuvantes em terapias médicas e psicológicas. Há décadas, eles apoiam pacientes em tratamentos tão diferentes quanto para depressão e para reabilitação motora.
Esta é a história de Taka, um shiba inu, a raça símbolo da família imperial japonesa. Taka tem nove anos e conhece muito bem as queimaduras com que trabalha como terapeuta. Ele foi ferido da mesma forma e parece compreender perfeitamente as limitações e incômodos dos pacientes.
Incêndio e recuperação
Em outubro de 2018, ocorreu um incêndio em Martinez, na Geórgia (sul dos EUA). A família humana conseguiu sair da casa sem sofrer danos de maior gravidade, mas não houve tempo para retirar Taka, um cão já idoso.
O fogo avançou por toda a varanda da casa, onde Taka tentou se refugiar. O piso não resistiu ao incêndio, desabando juntamente com o cachorro. Mesmo assim, Taka conseguiu escapar e saiu correndo em direção à casa vizinha.
O animal estava em chamas. Os vizinhos conseguiram apagar o fogo e entraram em contato com Crystal Lesley, veterinária do Care More Animal Hospital, localizado na mesma cidade. Quando a médica viu as imagens do cachorro, pediu para que o levassem imediatamente ao centro médico.
O animal foi rapidamente levado ao hospital – o pelo ainda estava fumegando quando a equipe de saúde começou a atendê-lo. A Dra. Lesley afirmou à imprensa, na época, nunca ter visto uma vítima de queimaduras em condição tão grave. Nos primeiros momentos, a equipe temeu pela vida de Taka.
O cachorro precisou ser sedado para receber os primeiros socorros – ele gritava de dor e mal podia ser tocado. Ao constatar a extensão dos ferimentos, a Dra. Lesley decidiu postar imagens de Taka nas redes sociais, pedindo ajuda para encaminhá-lo a um especialista.
Os seguidores do Care More Animal responderam rapidamente e, com os recursos obtidos, Taka foi transferido para o Centro de Atendimento Emergência dos Especialistas Veterinários, em Colúmbia, Carolina do Sul.
Crystal permaneceu com Taka na ambulância e durante a espera no centro de especialidades. A médica lembra que o cachorro chorava e ela também chorava com ele. O shiba inu permaneceu internado por um mês e meio e Crystal foi visitá-lo em todas as folgas.
Quando recebeu alta hospitalar, Taka ainda precisava de cuidados, que os antigos tutores não podiam prestar. A Dra. Lesley levou o cachorro para casa e cuidou dele nas semanas seguintes, limpando feridas e trocando curativos. A médica percebeu quase imediatamente que Taka não conseguia piscar os olhos.
O Centro de Queimados de Augusta (Geórgia) tomou conhecimento do caso de Taka através de uma de suas enfermeiras. O hospital entrou em contato com a Dra. Lesley, avaliou o shiba inu e prontificou-se para fazer as cirurgias reconstrutivas – inclusive enxertos de pele – sem nenhum custo.
Adoção e emprego novo
Com a desistência dos antigos tutores, que não tinham recursos para custear o tratamento, nem para auxiliar o cachorro de maneira adequada, Taka foi oficialmente adotado por Crystal Lesley.
Não foi uma decisão difícil, uma vez que o shiba inu já estava na casa da médica desde que recebera alta hospitalar. Crystal imaginou que poderia devolvê-lo à família tempos depois, quando o tratamento fosse encerrado, mas se sentiu muito feliz em acolher Taka de maneira definitiva.
Taka continuou dando sinais de plena recuperação. Felizmente, o cachorro não teve nenhum órgão interno comprometido, conseguiu vencer as infecções secundárias e, graças aos enxertos, recuperou a elasticidade da pele e a mobilidade.
Alguns meses depois, a enfermeira que encaminhou Taka ao centro de queimados de Augusta sugeriu que o cachorro fosse visitar o hospital – em especial, a ala que atendia crianças vítimas de queimaduras. Seria uma forma de distrair os pequenos pacientes e mostrar que a recuperação é possível.
Conhecendo o temperamento do cachorro que havia adotado meses antes, Lesley concordou com a proposta. A médica, que descreve o animal como um misto de bobeira e doçura, sabia que este seria o trabalho perfeito para Taka, já que ele ama estar com pessoas.
Depois de refletir, a Dra. Lesley admitiu que Taka era especial demais para não ser compartilhado com outras pessoas, especialmente pessoas que pudessem se beneficiar com a sua história e a sua capacidade de superação.
Um cão terapeuta
Como já era previsto, a visita de Taka às crianças internadas no centro de queimados foi um sucesso. Os pacientes queriam brincar com o shiba inu, tocar as cicatrizes – que ele não tem nenhuma vergonha de exibir – ou apenas acariciar o peludo.
Mas, para trabalhar oficialmente, Taka precisaria de uma licença especial: a certificação como cão terapeuta. A Dra. Lesley deu início ao processo de qualificação do shiba inu e contou com o trabalho da treinadora Mandy Foster.
Taka foi inicialmente submetido ao teste CGC (canine good citizen, ou cachorro bom cidadão, em tradução livre). A tutora conta que o cachorro demorou especialmente para aprender o comando “fica”, mas, depois disso, aprendeu rapidamente.
Depois das aulas, Taka fez o teste CGC e foi aprovado com honras. A Dra. Lesley se emocionou: “Só de pensar o quão longe ele chegou, onde está agora, é emocionante. O amor e o respeito que eu tenho por Taka são imensos”.
Taka foi finalmente admitido como cão terapeuta no Centro de Queimados de Augusta. Ele trabalha três tardes por semana, apoiando, distraindo e encorajando as crianças vítimas de queimaduras. A interação é vista como imprescindível para uma recuperação rápida e consistente.
Fonte: caesonline