Raphinha prometeu e não cumpriu: o Brasil não só perdeu para a Argentina, nesta terça-feira (25), como sofreu uma goleada histórica por 4 a 1 no Monumental de Núñez, pela 14ª rodada das Eliminatórias.
O atacante, que havia prometido a Romário “porrada” nos argentinos “em campo ou fora”, teve atuação nula, não marcou o gol que disse que faria, e ainda foi intimidado na confusão pelos adversários argentinos.
Foi a primeira vez na história que o Brasil sofreu quatro gols em uma partida das Eliminatórias. Alvarez, Enzo, Mac Allister e Giuliano Simeone marcaram para os argentinos, e Matheus Cunha descontou para a Seleção.
O Brasil se despede da Data Fifa na quarta posição, a seis pontos da repescagem, e com o trabalho de Dorival Júnior seriamente criticado pela torcida brasileira. Atual campeã, a Argentina já se garantiu na próxima Copa do Mundo.
Baile argentino começou cedo
Com apenas 12 minutos de jogo, o Brasil já perdia por 2 a 0 para a Argentina e era completamente dominado no Monumental de Núñez.
O primeiro gol saiu ainda com 3 minutos, quando Júlian Alvarez recebeu passe de Almada, ganhou com facilidade de Murillo e Arana e tocou na saída de Bento. A torcida argentina reagiu com gritos de “olé”.
No segundo, Murillo voltou a falhar, cortou mal cruzamento rasteiro de Molina, e Enzo Fernández apareceu sozinho para empurrar para o gol.
Cunha desconta para o Brasil, mas reação dura pouco
Com quatro meias — Enzo, De Paul, Mac Allister e Paredes —, a atual campeã do mundo engolia a Seleção Brasileira, que tinha apenas Joelinton e André na contenção. Eles não viam a cor da bola.
Um ímpeto de reação brasileira veio graças a um erro do zagueiro argentino Romero, que foi desarmado por Matheus Cunha. O atacante do Wolverhampton arriscou de fora da área e descontou, aos 26′.
Mas durou pouco: aos 36′, em nova falha da defesa brasileira, em cima do estreante Murillo, Enzo achou Mac Allister, que tocou de cobertura na saída do goleiro Bento.
Mudanças no intervalo não funcionam
No desespero, Dorival Júnior voltou para o segundo tempo com três trocas: Léo Ortiz, João Gomes e Endrick substituíram Murillo, Joelinton e Rodrygo, respectivamente.
O treinador optou por trocar as peças, mas não o esquema. O resultado, como era de se esperar, não fez efeito. A Seleção Brasileira não criou e viu a Argentina fazer o humilhante quarto gol.
Giuliano Simeone, que tinha acabado de entrar, aproveitou nova pane da defesa, que começou com desatenção de Savinho e seguiu com outro erro de Arana. O jovem atacante do Atlético de Madrid encheu o pé, aos 26 minutos do segundo tempo, e transformou a vitória em goleada.
Dorival sob pressão
A pressão sobre o trabalho de Dorival Júnior atinge seu maior nível depois da goleada sofrida pela Seleção diante da Argentina por 4 a 1, na terça-feira, no Monumental de Núñez, em Buenos Aires, e o debate pela troca de comando na Seleção está aquecido dentro da CBF.
Técnico preferido do presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, para assumir o cargo no início do atual ciclo, o italiano Carlo Ancelotti, do Real Madrid, volta a ser uma sombra. Na cabeça dos dirigentes da CBF, a participação de possíveis substitutos de Dorival no Mundial de Clubes, entre junho e julho, provoca um dilema: quando deve ser tomada a decisão sobre a possível troca?
As atuações ruins da Seleção já haviam levado à mesa de Ednaldo Rodrigues e seus pares a discussão sobre o futuro de todo o organograma do departamento de futebol da CBF. O distanciamento físico e verbal do presidente nos últimos dias escancarou uma relação que nunca foi próxima, mas agora se tornou ainda mais fria.
Após os empates de novembro, contra Venezuela e Uruguai, a Data Fifa de março despontou como decisiva na avaliação do trabalho de Dorival Júnior. Ednaldo, por sua vez, priorizou questões políticas e marcou o pleito que garantiu sua reeleição, no Rio de Janeiro, para a véspera do clássico com a Argentina.
A atuação constrangedora e a derrota por 4 a 1 elevam ainda mais a temperatura em uma realidade que já colocava em risco o emprego do treinador em conversas pelos corredores da CBF nas últimas semanas. O presidente chegou a Brasília para o jogo contra a Colômbia apenas na quinta-feira e na véspera para o clássico contra a Argentina.
Enquanto a possível troca era pauta em cenário de celebração pela vitória eleitoral, o ambiente de pressão e dúvidas pairava nos bastidores da equipe nos jogos nas capitais do Brasil e da Argentina. Em entrevista, Ednaldo verbalizou esse descolamento entre os ambientes do futebol e da política.
Reativo quando questionado sobre o futuro do trabalho de Dorival, o presidente disse que “até então” a CBF respaldava a comissão técnica, isentando-se de responsabilidade na fase ruim dentro de campo, com declaração similar à que deu em outras oportunidades:
– Eu reitero, da parte da CBF, que tudo que é solicitado à administração, na pessoa do seu presidente, é disponibilizado. Tudo. O que for das melhores condições para os atletas, para a comissão técnica, enfim. Mas, também, o que eu coloco é que o resultado em campo, esse a gente não tem controle. Eu não tenho controle do resultado em campo.
Ao sair do vestiário no Monumental de Núñez, Ednaldo se esquivou da imprensa:
– Amanhã eu falo.

Candidatos podem adiar decisão
Nas conversas a respeito de uma mudança, nomes já foram cogitados, e Carlo Ancelotti voltou à tona. A segurança política com um mandato que agora vai até 2030 e a possibilidade de fim de ciclo do italiano no Real Madrid indicam um cenário reaberto para Ednaldo em debates com seus pares mais próximos, como Ricardo Lima, presidente da Federação Baiana, e Gustavo Oliveira Vieira, da Federação do Espírito Santo.
O Mundial de Clubes é o impeditivo para uma decisão imediata. Ancelotti tem contrato até meados de 2026, mas a permanência em Madri é considerada improvável após a competição de junho a julho deste ano nos Estados Unidos. O italiano confessou a pessoas próximas desde a primeira investida que vê o interesse brasileiro com bons olhos.
Outro nome que ganha força como alternativa é o de Filipe Luís, do Flamengo, que também estará no Mundial, bem como treinadores com menor aprovação interna na CBF a esta altura, como Jorge Jesus, do Al-Hilal, e Abel Ferreira, do Palmeiras.
Esta realidade abre a possibilidade de a decisão ser tomada após a Data Fifa de junho, quando o Brasil encara o Equador, fora de casa, e o Paraguai, como mandante. A sobrevida ao trabalho da comissão, por sua vez, não anula a análise além dos resultados, em cima de uma performance vista como deficitária.
Abatimento toma conta do vestiário
O pós-jogo no Monumental de Núñez foi de desolação e abatimento nos vestiários. A pressão que vem do Rio de Janeiro é de conhecimento de todos desde o início da Data Fifa e causa um cenário de insegurança que ficou evidente nas palavras de Dorival depois da goleada:
– É uma situação que foge ao meu comando – disse ao ser questionado se sentia-se seguro no cargo.
– Pressão é sempre grande, eu tenho consciência de tudo o que representa, de tudo o que vinha sendo desenvolvido – completou em outro momento na entrevista coletiva.