Em um país que lidera o ranking de mortes de pessoas trans, o caso de Santrosa evidencia a urgência de políticas públicas e combate à LGBTfobia.
No domingo (10), a cantora Santrosa foi encontrada morta no Mato Grosso do Sul. Além de cantora, Santrosa havia concorrido ao cargo de vereadora em seu estado, e, embora não tenha sido eleita, ficou como suplente, com a possibilidade de se tornar a primeira vereadora trans da cidade. Nos últimos tempos, temos visto cada vez mais pessoas LGBTQIA+ conquistando cargos de poder, o que incomoda aqueles que estão no poder e nada fazem pela nossa comunidade. A cantora foi encontrada com as mãos e pés amarrados e com a cabeça decapitada. Segundo a polícia, Santrosa não havia registrado nenhuma denúncia de ameaça antes do ocorrido, e até o momento, não há suspeitos.
Santrosa era, acima de tudo, uma pessoa trans, assassinada de forma brutal, como infelizmente ainda ocorre diariamente em nosso país. Há 15 anos o Brasil lidera o ranking de países que mais mata pessoas trans e travestis, uma realidade alarmante para a comunidade. De acordo com o último relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), somente em 2023 foram registrados 140 assassinatos de pessoas trans no Brasil, reforçando a posição do país como o mais perigoso do mundo para essa população. A maioria das vítimas são mulheres trans e travestis negras, periféricas e com poucas oportunidades de trabalho, o que demonstra que a violência contra essa comunidade é estrutural.
Pesquisas indicam que a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de apenas 35 anos, enquanto a média para a população em geral é de mais de 75 anos, um dado inadmissível. Essa diferença brutal expõe a falta de políticas públicas eficazes no combate à LGBTfobia. Infelizmente, o combate à violência contra pessoas LGBTQIA+ no Brasil é conduzido principalmente por ONGs, enquanto o apoio do Governo Federal e dos governos estaduais é ainda insuficiente.
A Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso informou que acionou o Grupo Estadual de Combate aos Crimes de Homofobia (GECCH) e cobrará ações das autoridades competentes. Esperamos que esse crime seja desvendado e que os responsáveis por essa brutalidade sejam punidos o mais rápido possível. Além disso, é urgente que políticas públicas sejam elaboradas para evitar que tragédias como essa se repitam. Não podemos mais nos calar diante dos perigos que nossa comunidade enfrenta diariamente, especialmente a comunidade trans no Brasil.
Deixo aqui minha solidariedade aos amigos e familiares e torço para que os culpados sejam encontrados e punidos com o rigor da lei.