Nascido em São Luiz, Maranhão, em julho de 1855, Artur Azevedo iniciou sua carreira profissional como comerciário, passando tempos depois para o funcionalismo público, através de um cargo de praticante na Secretaria da Presidência do Estado. No entanto sua vocação para a literatura havia se manifestado desde muito cedo, quando fundou um jornalzinho chamado “O Domingo”, onde revelou seu talento colhendo seus primeiros frutos.
Em 1875 transferiu-se para o Rio de Janeiro, vindo a trabalhar na Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas, onde percorreu vários postos desse órgão. Colaborou em todas as revistas literárias do seu tempo. Na revista semanal “O Theatro” ocupava o cargo de colaborador efetivo, onde semanalmente fazia uma crônica teatral. Foi um batalhador de primeira linha na luta visando a construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e também pela criação de uma Companhia Dramática Brasileira, trabalho que desenvolveu até o seu falecimento em 22 de outubro de 1908.
A preferência que se expandia pelo gênero ligeiro quase matou o drama e a comédia, no fim dos anos 1800. A opereta, o cancã, a opera bufa, tudo que agradava e deliciava a vida noturna parisiense, nacionalizou-se imediatamente num Rio de Janeiro ávido de alegria e de boêmia, abandonando assim os costumes provincianos. Somente a grande abnegação do pessoal de teatro impediu o desaparecimento do drama e da comédia por completo, da paisagem carioca.
Em 1873, Machado de Assis, em um estudo intitulado “Literatura Brasileira: Instinto de Nacionalidade”, exercia severa critica a esse estado de coisas. “Não há atualmente um teatro brasileiro, nenhuma peça nacional se escreve, raríssima peça nacional se representa. As cenas teatrais desse país viveram sempre de traduções, o que não quer dizer que não admitissem alguma obra nacional quando aparecia. Hoje, que o gosto do público tocou o último grau de decadência e perversão, nenhuma esperança teria quem se sentisse com vocação para compor obras severas de arte.”
Foi nesse período que surgiu no Rio de Janeiro procedente do Maranhão, o jovem Artur Azevedo, que veio a dominar a cena teatral brasileira até seu falecimento. Consideramos que ele fechou um ciclo do nosso teatro, nascido com as comédias de Martins Pena, de quem foi herdeiro direto. Reagindo contra as paródias e os besteróis de então que invadiram a ribalta nacional, com suas obras “A Capital Federal” e “O Mambembe”. Estas obras estão até hoje entre as obras primas da nossa dramaturgia, por serem um feliz resumo das características de uma época.
As dezenas de textos de Artur Azevedo, resultado de uma copiosa produção dramatúrgica, não desenha a imagem completa deste grande homem de teatro. No próprio campo da dramaturgia, nos espanta essa incansável atividade em apenas 53 anos de existência, que contrastam com a fama de boêmios desfrutada por outros membros da atividade literária da época.
Quando aportou no Rio de Janeiro, aos dezoito anos de idade, trazia em sua bagagem uma única obra: “Amor por anexins”, texto que ainda hoje recebe belas montagens. Sua biografia conta que aos nove anos escreveu o primeiro texto, do qual não se tem notícia. Por toda a sua obra, Artur Azevedo deu uma bela contribuição às artes cênicas brasileiras, e sobretudo à cultura nacional.
CARLOS PINTO
Jornalista e Presidente do ICACESP
Instituto Cultural de Artes Cênicas do Estado de São Paulo