O tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, afirmou, em entrevista exclusiva ao MG1, que o transbordamento de um dique da Mina Pau Branco, da Vallourec, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, não representa risco iminente e não há necessidade de evacuação da área.
Segundo o militar, a estrutura permanece íntegra, e não houve rompimento de barragem.
De acordo com a Vallourec, em decorrência das fortes chuvas, houve um carreamento de material sólido da pilha Cachoeirinha para a estrutura. A água reservada pelo dique transbordou e invadiu a BR-040, que liga Belo Horizonte ao Rio de Janeiro, que permanecia totalmente interditada às 13h40.
Veja abaixo a entrevista na íntegra:
TV Globo: Esclareça, por favor, a situação. O que ocasionou esse derramamento de lama na pista em Nova Lima?
Tenente Pedro Aihara: O que aconteceu no local foi que, devido a fortes chuvas que acometem toda a nossa Região Metropolitana de Belo Horizonte, um dique, que é o dique Lisa, que faz parte da estrutura da Mina Pau Branco, acabou recebendo um fluxo muito intenso de água. Esse dique é de contenção de água de chuva, não é um dique de rejeito, e, em decorrência da quantidade de água, acabou existindo um transbordamento. Essa água acabou passando pelo limite superior do dique e afetando a BR-040.
É importante destacar que não há nenhum tipo de comprometimento estrutural desse maciço, não há nem houve nenhum tipo de rompimento de barragem, e nem há risco de rompimento neste momento. O que houve é que, devido à quantidade de água das chuvas, acabou havendo esse transbordamento.
Essa água afetou a BR-040, que permanece interditada neste momento. É importante destacar essa informação para que os motoristas evitem esse local. O local onde ela está interditada é nas proximidades do trevo de Ouro Preto. Como naturalmente a BR-040 já é uma rodovia que recebe um fluxo muito grande, vai existir um congestionamento considerável no local. Ainda não há previsão de liberação dessa via. O Corpo de Bombeiros realiza com outros órgãos todo o monitoramento da região.
O maciço permanece íntegro, não houve nenhum tipo de deformação. Não há no momento nenhum tipo de motivo para que haja pânico ou evacuação da população.
A gente já está com todas as equipes mobilizadas para a região, também em contato direto com a empresa responsável, até pela questão da quantidade de água, que, naturalmente naquele momento, assusta bastante. As pessoas veem a água carregando um pouco de barro, acham que é rejeito, não há nenhum tipo de rejeito sendo carreado, realmente foi uma situação em decorrência das chuvas.
Não temos vítima fatal, a gente teve uma pessoa que foi indiretamente atingida, que era uma pessoa que estava com carro passando pelo local quando o fluxo de água acometeu a BR-040, mas não temos nenhuma situação de vítima grave. A gente permanece fazendo todo esse mapeamento de demandas no local, tudo está transcorrendo neste momento com um pouco mais de tranquilidade.
TV Globo: O senhor sabe, como nós, que com qualquer notícia envolvendo barragem, fica tudo mundo muito apreensivo. Temos que deixar uma mensagem que não é para entrar em pânico, foi só um transbordamento. Vamos deixar isso bem claro para as pessoas que estão assistindo.
Tenente Pedro Aihara: Exatamente, naturalmente, também é muito importante que todas as pessoas que moram na região tenham muito cuidado com as fake news. Infelizmente, quando acontecem situações desse tipo, começa a haver veiculação de boatos. E, como foi fito, o maciço do dique permanece íntegro, não apresenta nenhum tipo de comprometimento, está sendo monitorado o tempo todo.
O que houve foi realmente é que, devido à quantidade de água muito grande das chuvas, houve esse transbordamento.
Como a quantidade de água é considerável, acaba assustando as pessoas que estão na região, e como a água desce carregando lama, alguns vestígios que estão no caminho, as pessoas acham que é rejeito de minério, mas não é.
O mais importante neste momento é as pessoas não adotarem nenhum tipo de medida afobada, no sentido de abandonar as residências, porque isso não é necessário.
O Corpo de Bombeiros vai permanecer no local até o término de todas as operações e, se for necessário, a evolução de qualquer situação, as nossa equipes que estão reforçadas durante esse período chuvoso, estão prontas para atuar.
A Região Metropolitana de Belo Horizonte tem previsão de chuvas fortes para os próximos dias, ultrapassando até 100 mm de chuva, então todo o nosso efetivo foi reforçado com equipes de sobreaviso e apoio operacional para estarmos prontos para dar conta de toda essa demanda que pode surgir na Região Metropolitana, especialmente.
TV Globo: Agora, a gente tem o trabalho de limpeza da pista, e depois deve haver uma vistoria para saber se essa estrutura foi comprometida também.
Tenente Pedro Aihara: Em relação a essa situação, por mais que as pessoas fiquem assustadas quando acontece esse tipo de galgamento, quando essa água transborda, o risco de existir qualquer tipo de comprometimento da estrutura da barragem é muito pequeno.
Porque, nesse caso, a gente não tem nenhuma movimentação que provoque algum tipo de deformação nesse maciço, por isso que a situação nesse caso é mais tranquila do que em outras situações de evolução de risco. Mas, naturalmente, a gente também fica em contato direto com a empresa, os outros órgãos, para fazer esse monitoramento.
Mas o que é mais importante destacar neste momento é isso: em relação ao dique, à estrutura da barragem, ele está completamente íntegro, não teve nenhum tipo de deformação.
Quando a gente fala de um complexo de mineração desse tamanho, existem outros locais onde há o empilhamento de rejeitos filtrados, de algum material relacionado à mineração.
Devido às fortes chuvas, a gente teve uma pilha que teve uma movimentação. Em decorrência dessa movimentação, acabou provocando um movimento de onda que favoreceu essa questão do galgamento.
Por isso que o transbordamento aconteceu dessa forma, mas não há motivo para pânico, a gente permanece fazendo esse monitoramento.
TV Globo: Para explicar melhor para quem está em casa, esse dique é como se fosse um reservatório de água, e houve essa terra que invadiu o reservatório, por isso ele transbordou, certo?
Tenente Pedro Aihara: Exatamente. Nessas estruturas de mineração é muito comum a gente ter algumas estruturas para contenção de água de chuva. Esse dique é especificamente feito para isso. É o dique Lisa, fica bem próximo a estrutura do Miguelão, nas proximidades do condomínio Alphaville.
Tem em outro local da operação da mina essa estrutura de empilhamento, de rejeito filtrado, que depois do processo de beneficiamento do minério é aproveitado, é empilhado. Em decorrência das chuvas, em um desses pilhamentos, houve uma movimentação, ele acabou caindo dessa estrutura do dique de contenção.
E, da mesma maneira, quando a gente tem um copo que está muito cheio, se a gente coloca algum conteúdo dentro, acaba transbordando, foi justamente isso que aconteceu.
Houve esse movimento de onda em decorrência desse material que caiu dentro do dique, e esse movimento de onda acabou favorecendo esse transbordamento.
A água passou por cima do dique, e no momento que ela passa por ciam do dique acaba indo no caminho da BR-040, que fica nas imediações. Por isso, o fluxo de água foi muito grande num primeiro momento, mas no local, neste momento, estamos com uma situação bem mais tranquila.
TV Globo: Como vai ser o trabalho dos bombeiros, além dessa limpeza que é necessária?
Tenente Pedro Aihara: Nossa preocupação primeiramente é em relação à vida das pessoas. Assim que entrou a ocorrência, deslocamos equipe aérea e por terra para verificar se seria necessária a evacuação de algumas das comunidades. A gente verificou que não haveria essa necessidade.
Agora, o que a gente faz é o monitoramento, tanto da necessidade de eventual evacuação, que neste momento é descartada, porque não há situação de risco, como da situação da própria BR-040. Como a quantidade de água que passou pelo local é considerável, antes de fazer a liberação da pista, há uma avaliação para ver se a pista está em condições de rodagem, se oferece algum tipo de risco.
Às vezes, quando a gente tem essa quantidade de água passando pelo local, pode desencadear algum processo erosivo, apresentar algum tipo de rachadura, de fissura na pista. Antes da liberação, a gente faz toda a conferência junto com outros órgãos para garantir a segurança dos motoristas.