A soldado PM Sabrina Valentim, de 23 anos, que está no curso de formação da escola de PMESP (Polícia Militar do Estado de São Paulo), no CPI-3, lotada no 15 BPM/I, com sede em Franca, denunciou em live numa rede social, que teria sido assediada sexualmente e moralmente, por um sargento da Polícia Militar de Franca. O assédio teria transformado a sua vida de tal maneira que a policial pediu exoneração da PM, menos de um ano depois de ter sido aprovada em concurso da corporação.
Sabrina, que reside em Uberaba (MG), afirma que o seu sonho de se tornar policial militar virou um enorme pesadelo após o assédio. A tal ponto de ela ter tentado o suicídio em algumas ocasiões.
Aprovada em recente concurso da PM, Sabrina foi empossada em janeiro de 2021. Após concluir o primeiro módulo do curso de formação de soldados em Ribeirão Preto, ela escolheu Franca para concluir o segundo módulo.
“Quando cheguei lá (Franca), passei a sofrer assédios de um superior hierárquico, que me chamava de “falsa magra”, “puta gostosa”, falava que eu ficava muito bem de uniforme de educação física, perguntava se eu tinha interesse por homens mais velhos, passava a mão no meu rosto dizendo que só queria ver se eu estava com espinhas, falava sobre partes do meu corpo, etc.”, contou Sabrina em seu perfil no facebook.
Em uma live no Instagram da ex-policial militar Jéssica Paula do Nascimento, 29 anos, e que também foi assediada por um oficial da PM, Sabrina relatou, no dia 22 de dezembro de 2021, que depois que foi assediada entrou em depressão profunda, teve crises de ansiedade e chegou até a se automutilar algumas vezes. “ Foi aí que me vi de frente com uma decisão complicada: denunciar ou pedir pra sair. Pedi pra sair”, relatou .
“Primeiramente gostaria de deixar bem claro que isso não é uma crítica à instituição Polícia Militar do Estado de São Paulo, é um breve relato de uma situação que aconteceu através de uma pessoa que não representa a PM” disse Sabrina logo no início da entrevista de cerca de 30 minutos, e que chegou a ser acompanhada por policiais militares do 15 BPM/I de Franca.
“Quando uma mulher escolhe denunciar o assédio mesmo com provas as pessoas duvidam dela, questionam a sua conduta, o seu caráter, e eu não estava disposta a viver esse desgaste, porque entendi que aquilo não valia a minha saúde mental, não valia o terror que eu estava vivendo, e foi aí que eu decidi sair, mas antes comuniquei a situação aos meus superiores”.
A policial pediu exoneração em agosto do ano passado. Porém, seu pedido não foi aceito. Pior. Ela acabou afastada do serviço por motivos psicológicos.
“Todos os meses eu me submeto a uma junta médica, onde eu me exponho, conto toda a situação, todos os problemas que eu enfrento e nada é feito, além de me afastarem por mais um mês e mandarem voltar no mês seguinte”.
O problema é que a avaliação mensal é feito por uma junta médica da Polícia Militar em São Paulo, o que leva a policial a gastar R$ 500 todos os meses só com a viagem. Além disto ela desembolsa outros R$ 400 mensais com medicamentos—ela toma 3 antidepressivos.
A carga está tão pesada que da última vez em que mandaram Sabrina a São Paulo, ela tentou o suicídio e seu marido foi chamado ao Quartel da PM em Franca para busca-la. “A última vez que fizeram com que eu fosse lá (São Paulo), eu tentei suicídio porque não aguentava mais, estava insuportável pra mim”, conta a policial, acrescentando que até agora nada foi apurado em relação ao assédio. E o sargento ainda teria desdenhado dela. “Quem vai acreditar nesta denúncia? Você é uma soldado de segunda classe e eu sou sargento”, teria dito o acusado.
Em meio a tantos abalos psicológicos, Sabrina ainda teve aberto contra sí um PAE (Processo Administrativo Exoneratório). Segundo ela, o objetivo da PM é expulsá-la pela porta dos fundos.
“Um processo de exclusão/demissão/expulsão das fileiras da Polícia Militar justamente por não apresentar o perfil psicológico compatível. Sendo que eu me submeti a exames psicológicos antes de entrar na corporação, onde foi atestado que eu estava apta e tinha o perfil psicológico exigido para o cargo.
Eu adoeci na PM. E agora estou sendo expulsa porque adoeci?”, indaga a policial.
Mal sabia ela que o pior estava por vir. Recentemente, chegaram ao prédio onde Sabrina mora para entregar-lhe a citação do PAE, um escrivão e o sargento acusado de tê-la assediado. Eles foram recebidos pela mãe de Sabrina, porém, o sargento ficou o tempo todo de costas para não ser reconhecido pela mãe da policial.
“Isso foi um soco na cara. Me senti pequena, me senti com medo, me vi desesperada. Minha mãe ligou para o meu marido me acompanhar”.
Sabrina afirma ainda ter provas da ida do seu superior a Uberaba. Tem as câmeras de segurança, tenho testemunha, tenho gravações de minhas ligações para as perícias na Polícia Militar, um capitão da PM sabe do caso, mas nada foi feito”, reclama, alegando que tudo o que mais deseja no momento é deixar a corporação pela porta da frente.
“Eu não aguento mais. A única coisa que eu quero é sair da PM. Mas não expulsa, não demitida. Quero sair exonerada a pedido, porque eu decidi, e não com uma “mancha” que pode prejudicar todo o resto da minha vida profissional”, pede a policial, que já tentou se enforcar com uma gravata em sua casa, e se auto lesionou no Quartel da PM após ser humilhada por um médico no próprio hospital da PM.
Após expor o caso na live de Jéssica Paula e em seu facebook, Sabrina conseguiu apoio do advogado da própria Jéssica, que se ofereceu para defendê-la no processo de exoneração aberto pela Polícia Militar.
“Estou relatando esse caso e as providências administrativas e jurídicas já foram tomadas, agora estou no aguardo e pedindo a Deus que a justiça seja feita”, concluiu na sua rede social.
Nota da redação: Depois de tentar um contato sem sucesso com o sargento, o portal Fato no Ato enviou e-mail ao comando do 15 BPM/I e ao setor de comunicação da Polícia Militar, relatando o caso e solicitando respostas da PM. Tão logo tenhamos o resultado noticiaremos no site e também na rádio Fato no Ato.