Vale a pena conferir um pouquinho da história da “última flor do Lácio”, como diria o nosso poeta Olavo Bilac. É tarefa custosa resumir a história do português, que é uma língua tão variada quanto os países lusófonos – aqueles que têm esse idioma como língua oficial e integram o que se convencionou chamar de “comunidade lusófona”.
Longe de ser uma língua inexpressiva em termos mundiais, atualmente o português é o idioma oficial de oito países, espalhados ao longo de todo o globo: Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Brasil, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor-Leste.
Em cada país em que se fala o português oficialmente, as variações são muito perceptíveis. Nos países da África, por exemplo, ele tem se misturado a idiomas tribais mais antigos dando origem a línguas híbridas por meio de processos linguísticos complexos, como a crioulização, em Cabo Verde. Mas fenômenos como esse não são novos, ao contrário, remontam ao passado da nossa própria língua, que, diga-se de passagem, foi bastante sinuoso e intenso.
Era no tempo da Roma Antiga e eram faladas duas variedades de latim: o latim vulgar, falado pelas classes populares, e o literário ou culto, utilizado pelas classes abastadas e privilegiadas da época. Como se sabe, o Império Romano impunha seus costumes, crenças, leis – e, claro, sua língua – aos povos que eram dominados. Como a língua falada no cotidiano das novas cidades que iam surgindo era o latim vulgar, com o decorrer do tempo e as miscigenações ocasionadas, uma nova língua ia se desenhando.
Aos poucos essa nova língua foi se misturando a idiomas de povos bárbaros e arábicos, e nos primeiros séculos depois de Cristo, desabrochou então a última flor das línguas neolatinas: a língua portuguesa.
O português, atualmente, é um dos dez mais prestigiosos idiomas do mundo, admirado por toda cultura que abarca, pelo seu frescor e sonoridade, e, por isso, Bilac a louvou:
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o tom e o silvo da procela
E o arroio da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Por Prof. Wanderson Batista dos Santos
Professor efetivo do IFMG – Campus Governador Valadares