Em 2001, a Marinha Brasileira comprou um porta-aviões que a França acabara de desativar. Rebatizado, o “NAe São Paulo” tornou-se a maior embarcação de nossas Forças Armadas, com 266 metros de comprimento e a massa colossal de 34 mil toneladas. Foi uma aquisição de peso, sem dúvida.
Mas não foi uma compra inteligente pois, nas estruturas de isolamento térmico, havia algo perto de 70 toneladas de amianto, produto que – por conta de ser cancerígeno – começava a ser vedado internacionalmente. Chegando ao Brasil, 80% do amianto embarcado foi extirpado, sobrando nove toneladas embutidas em estruturas que não recebiam acesso humano.
O reinado do porta-aviões São Paulo, em nossa Marinha, durou pouco. Uma explosão na casa de máquinas, no ano de 2004, retirou-o de ação. Atracado no Rio de janeiro, aguardou um conserto, que não aconteceu. Sua face de bombordo ficou sob forte ação do sol, o que acelerou a deterioração de seu casco. Uma placa de 12 m² acabou se desfazendo em ferrugem, fragilizando a flutuabilidade da embarcação. Nada de grave, se houvesse um reparo do casco, mas esse conserto também não foi feito.
Chegamos ao governo Bolsonaro e ao momento em que o comando da marinha fica com o Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen. Olsen é aquele camarada que patrocinou o ridículo passeio de tanques, soltando fumaça, na Praça dos Três Poderes, com o objetivo de intimidar o Congresso no dia em que se referendou o uso das urnas eletrônicas, nas eleições de 2022; Olsen é o indivíduo que não foi à posse de seu sucessor, no mês passado.
Olsen, entre transformar o São Paulo em um museu da Marinha e vende-lo como sucata, preferiu a segunda opção. Vendeu a embarcação para uma empresa que a levaria para a Turquia, onde seria desmontado. Em 21 de abril de 2021, a viagem do nosso agora navio-fantasma começou. Após ser rebocado até o Estreito de Gibraltar, chegou a notícia de os turcos se negariam a receber a embarcação. Meia-volta!
Chegando ao Brasil, vários portos também se negaram a receber o São Paulo, por medo de que ele possa afundar no porto, ou no canal de acesso portuário, causando elevado prejuízo, nessas eventualidades. É claro que esses portos receberam o aval da Marinha, para fazer a negativa.
Com risco de falir ao enfrentar tantos gastos extras, a MSK Maritime Services & Trading, responsável pela embarcação, enviou (em 10 de janeiro de 2023) uma carta advertência para as autoridades brasileiras renunciando à propriedade do casco em favor da União.
O que fazer? Afundar o navio, em um local com 5 mil metros de profundidade, é a opção mais óbvia. Mas Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente, e a comunidade internacional são contra… Talvez buscar um comprador saudita (onde a legislação permite o manuseio de amianto)… Enfim, ninguém sabe ao certo.
Só nos resta esperar que a incúria que deve levar ao desmonte, ou afundamento, do São Paulo, não se repita em São Paulo.
Mauriney Eduardo Vilela (Ney Vilela)
Doutor em História Social
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Unesp de Franca
Grupo Letras e Sons – em defesa da Música Popular Brasileira