Ninguém queria ajudar esta pitbull doente e faminta, mas ela conseguiu dar a volta por cima.
Matilda não teve um bom começo de vida. Ela foi abandonada à própria sorte nas ruas e ninguém queria ajudá-la, talvez com medo da fama de agressividade que cerca os pitbulls. Além disso, a cachorra estava doente, coberta de ferimentos.
Muitas pessoas que cruzaram o caminho da pitbull refizeram os passos ou atravessaram a rua, para não se aproximar dela. É provável que tenham acreditado que os ferimentos eram decorrentes de muitas brigas – afinal, pitbulls são tidos como cães violentos.
Mas Matilda, contrariando o que se espera da raça, queria companhia humana. Ela tentava se aproximar, mas ninguém queria contato com a cachorra, que seguiu tentando sobreviver, encontrando restos para se alimentar e não morrer de fome.
O resgate
Considerando o temperamento de Matilda, as feridas que cobriam o seu corpo não eram resultantes de brigas com outros cães de rua. Ela finalmente foi encontrada por um veterinário, que a acolheu em seu consultório e, depois de alguns exames e avaliações clínicas, diagnosticou o problema real.
A pitbull tinha sido picada por flebótomos, um gênero de mosquitos que transmite a leishmaniose, cujos primeiros sintomas são justamente as feridas pelo corpo (inicialmente na cabeça e no pescoço).
O veterinário tratou a doença e manteve Matilda confortável durante toda a convalescença. A história da pitbull abandonada foi contada por Valia Orfanidou, uma ativista grega dos direitos dos animais, no “The Orphan Pet”, no Youtube.
No vídeo, Valia inicia o relato dizendo que “Tenho de admitir que ela [Matilda] deve ter sido um dos cães poeticamente tristes que observei e filmei na sala de um consultório veterinário”. A ativista acredita que a cachorra foi ignorada simplesmente por ser pitbull – e, portanto, “brava”.
Matilda finalmente recuperou a saúde. Graças ao tratamento e à divulgação da história nas redes sociais, a pitbull foi finalmente adotada. Os vídeos revelam que a cachorra é extremamente meiga e dócil, fugindo totalmente ao estereótipo do “cachorro assassino”.
O pai adotivo de Matilda é voluntário em ações de resgate de cães abandonados. No início, ele apenas recebeu a cachorra em casa provisoriamente, mas a pitbull se adaptou muito rapidamente ao novo lar – e aos novos irmãos: o adotante já tinha quatro cães, todos resgatados nas ruas.
A doença
Matilda estava com leishmaniose, uma doença causada por Leishmania, um gênero de protozoários. A doença, que é uma zoonose (pode afetar também humanos) não é transmitida pelo contato direto, como lambidas e mordidas.
O vetor da leishmaniose é o mosquito-palha, um inseto díptero nativo da Europa, que se espalhou pelo mundo inteiro a partir do século 15. As fêmeas do mosquito-palha podem transmitir a doença através das picadas (elas sugam sangue de mamíferos e aves no período anterior à postura dos ovos).
A leishmaniose apresenta duas formas: visceral e cutânea. A primeira é a mais comum entre os cachorros e pode inclusive ser fatal. Além disso, os animais infectados ajudam a espalhar a doença por via indireta, ao serem picados por outras moscas.
A doença afeta o sistema imunológico. Uma vez no organismo do hospedeiro, os protozoários passam a se multiplicar rapidamente e atacam glóbulos brancos. Se não for tratada, a leishmaniose evolui para quadros mais graves, afetando o fígado e a medula óssea.
Até pouco tempo atrás, a leishmaniose era uma verdadeira sentença de morte para os cachorros: os medicamentos disponíveis eram raros e havia o risco de tornar o protozoário mais resistente. Além disso, a doença é um caso de saúde pública.
Em 2018, os veterinários passaram a usar a miltefosina, uma droga de uso exclusivo em cachorros com a doença. Uma vez diagnosticada no início, a leishmaniose pode ser superada em poucas semanas e os pets deixaram de ser sacrificados.
Pitbull é bravo?
A “fama de mal” da raça é tão forte que alguns países, como a Dinamarca, proibiram a criação de pitbulls. No Brasil, diversos municípios estabeleceram regras para passear com estes cães em locais públicos: em São Paulo, por exemplo, os pitbulls (entre outras raças caninas) devem usar focinheira e ser conduzidos com guia curta.
Efetivamente, o pitbull foi criado para ser usado em rinhas de cães (pit, em inglês, significa rinha). Eles são cães fortes resistentes, valentes e muito determinados. Mas as características genéticas não são determinantes exclusivas do temperamento dos peludos.
A maioria dos veterinários afirma que as condições de vida e o tratamento recebido são muito mais importantes para o desenvolvimento emocional dos cachorros. Portanto, se um pitbull é recebido em casa e passa a ter treinamento e socialização (com humanos e outros pets), dificilmente ele se tornará um adulto agressivo e violento.
Fonte: caesonline