Todos os cachorros gostam de carinho e contato físico, mas será que eles gostam de beijos?
Cachorros gostam de beijos? Carinhos, afagos e cafunés são sempre muito bem-vindos pelos cachorros. Os nossos peludos são animais gregários. Eles vivem em grupos sofisticados e, em nossas casas, reproduzem comportamentos da matilha: desenvolvem diversas atividades e recebem recompensas por isso. Mas será que os beijos devem fazer parte desses prêmios?
Hoje em dia, a maioria dos tutores considera os cachorros como membros da família e muitos fazem questão de demonstrar o afeto com beijos. É preciso considerar, em primeiro lugar, as questões de higiene, mas também é necessário um esforço para saber se os cães realmente apreciam os contatos físicos próximos.
Afinal, os cachorros gostam ou não de beijos?
Os cães desenvolvem características exclusivas de personalidade; por isso, não é possível ser taxativo em afirmar que eles gostam de beijos ou não. Alguns peludos adoram ser paparicados, colocados no colo e ser cobertos por beijos dos humanos da família.
Outros filhos de quatro patas gostam mais de brincadeiras e jogos intensos ou são mais reservados, preferem manter certa distância – e alguns fazem questão de demonstrar os agradam que gostam de receber e quando querem recebê-los.
É importante considerar também o porte do cachorro. Basta fazer um exercício de alteridade: quem gostaria de, sem aviso, ser arremessado pelo ar e aproximar-se de uma cabeça que, muitas vezes, é maior do que ele?
Especialmente quando o gesto é feito por pessoas desconhecidas e mesmo de alguns visitantes de quem os cachorros não gostam. Imagine um chiuaua ou um yorkshire terrier sendo lançado para cima e aproximado de um rosto imenso. Provavelmente, ele imagina que será devorado pelo invasor da privacidade, ou lançado a distância.
Beijos em cachorros: sim ou não?
A resposta é: depende. Os tutores podem experimentar alguns beijinhos e observar a reação dos cachorros. Caso eles aceitem, o gesto pode ser repetido, mas isto não significa que os peludos passarão a cumprimentar a todos com beijos.
Alguns cães podem inclusive admitir os beijos como gestos de amizade. Desta forma, não faz nenhum sentido beijar quem vive impondo regras e restrições, muito menos as pessoas estranhas que, vez ou outra, são recebidas em casa.
Os cães mais tímidos e introvertidos geralmente não se acostumam com os beijos, mesmo que gostem muito da proximidade e até mesmo do colo. Os animais independentes também podem recusar o gesto – e não vale a pena forçá-los: o melhor a fazer é encontrar outras maneiras de demonstrar o afeto.
É importante considerar também que, na linguagem corporal canina, a aproximação de focinhos é encarada como um desafio. Ao se conhecerem, os cachorros costumam aproximar o focinho de outras partes do corpo para identificar algumas características do recém-chegado, como sexo, estado de saúde e disposição geral: apenas cheirando (ou cafungando), eles são capazes de perceber se o novato é camarada ou agressivo.
Se o cachorro tentar desviar o rosto, fugir ou mostrar sinais de agressividade (dentes à mostra, rosnadas, etc.), o tutor deve entender que o cachorro não é adepto dos beijos e é melhor respeitar as suas vontades, necessidades e desejos.
Isto não significa, no entanto, que o cachorro não ama o seu tutor. Aliás, nem é necessário muito esforço para comprovar a lealdade e a dedicação dos peludos, que conseguem admirar até mesmo quem não dispensa um tratamento adequado.
É perigoso beijar cães?
Esta é uma questão primordial. Antes de descobrir se os cachorros gostam de beijos, os tutores precisam atentar para alguns riscos que o gesto pode ocultar. Beijar os peludos, e até mesmo receber algumas lambidas, pode ser perigoso.
O motivo é simples. Os cachorros passeiam nas ruas e até mesmo no quintal de casa eles estão sempre “metendo o nariz onde não são chamados”. Os cães possuem olfato muito apurado e utilizam este sentido para entender o mundo que os cerca.
Alguns gestos que nós consideramos desagradáveis, como cheirar o cocô dos cachorros que passaram antes (e os tutores desmazelados não recolheram). Para os peludos, é uma atividade natural e importante, para reunir informações sobre o autor dos dejetos.
Eles podem, nas caminhadas, infectar-se com alguns vírus e bactérias. Também é possível que eles entrem em contato com ovos e larvas de vermes que parasitam os intestinos. Além de prejudicar a saúde dos cachorros, algumas destas doenças são transmissíveis para os humanos – este é mais um motivo por que nós devemos manter a vacinação em dia.
De modo geral, as chances de contrair uma doença durante os passeios diários são pequenas, mas não são inexistentes, especialmente com relação às crianças, que ainda não têm o sistema imunológico totalmente formado, e também aos imunodeprimidos.
A antropomorfização
Muito se discute sobre a eficácia de humanizar os cachorros, isto é, dispensar um tratamento semelhante ao das crianças. Certamente, os cães há muito deixaram de ser adotados em função do cumprimento de algumas tarefas, como vigiar, proteger, caçar, etc.
A maioria dos cachorros, hoje em dia, é adotada exclusivamente para companhia. De qualquer maneira, é preciso lembrar que os cães não são humanos: eles são… cachorros. Apresentam um repertório semântico diferente do nosso e muitos deles – a maioria – não compreendem os beijos como gestos de afeto.
Muitos tutores, procurando agradar os peludos, oferecem agrados desnecessários ou incompreensíveis, como roupas, acessórios, gestos incompreendidos (como é o caso do beijo), etc. Até mesmo joias e artigos de grife são usados.
Vale dizer: não há nada errado, para quem gosta, em vestir e enfeitar os cães, desde que a funcionalidade não seja comprometida: os peludos não podem ter os movimentos prejudicados, nem ser sobrecarregados com muito peso.
No caso dos beijos, as reações são muito diferentes. Enquanto alguns cachorros compreendem que o gesto é uma manifestação de afeto, outros preferem manter distância. Nestes casos, trocar o beijo por uma coçadela na barriga ou na orelha pode ser a melhor opção.
O beijo
Mesmo entre nós, os beijos não são atitudes naturais. O registro mais antigo de um beijo é de 1200 AEC, em uma passagem dos Vedas (textos sagrados do Bramanismo): “Amo beber o vapor dos teus lábios”. Outro texto indiano, o Kama Sutra, escrito entre 400 e 200 EC, apresenta cerca de 200 passagens sobre a ética e a prática do beijo.
O beijo já foi empregado para demonstrar amizade (como ocorreu entre gregos e judeus antigos) e até mesmo para declarar a origem social: entre os persas, homens de condição semelhante se beijavam na boca; ao cumprimentar alguém de posição inferior, o mais rico oferecia um beijo no rosto; por fim, os pobres precisavam se ajoelhar ante os demais, sem nenhum contato físico.
Porém, por mais antigos que sejam, estes registros mostram que o beijo surgiu muito tardiamente: considerando que o Homo sapiens caminha pela Terra há 350 mil anos, três mil anos é quase nada.
O beijo, portanto, é uma aquisição recente dos humanos – e os cachorros não incorporaram o hábito. Os tutores podem beijar os cachorros, desde que eles gostem. O ideal, no entanto, é encontrar as formas de agradar que mais interessam aos peludos. Esta é a melhor maneira de retribuir a fidelidade, dedicação e alegria proporcionada pelos cães.
Fonte: caesonline